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SAÚDE
Dores de cabeça após esforço físico devem ser investigadas; detecção precoce aumenta chance de sobrevivência
Cefaléias podem indicar aneurismas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dores de cabeça fortes e crônicas, especialmente as que se manifestam após esforço físico ou
que lembram uma pancada no
crânio, podem ser sinais de um
aneurisma cerebral (dilatação da
artéria) e devem ser investigadas
por um neurologista para evitar a
ruptura do vaso e o sangramento.
Quanto mais cedo for diagnosticado e tratado o aneurisma,
maiores serão as chances de sobrevivência. As estatísticas não
deixam dúvidas: 30% das pessoas
morrem na primeira hemorragia,
60% não resistem à segunda e
quase 100% não sobrevivem a um
terceiro sangramento.
Hoje, do total de pacientes que
sofrem hemorragia cerebral, apenas um terço volta à vida normal.
Entre as seqüelas, provocadas especialmente pelo aumento da
pressão intracraniana, estão distúrbios motores e de memória.
Segundo o neurologista Mario
Peres, do Hospital Israelita Albert
Einstein, as pessoas que sentem
dores de cabeça recorrentes devem procurar um neuro para serem avaliadas por meio de exames clínicos e de neuroimagem.
"É comum ver pacientes que tinham dores de cabeça crônicas e
que nunca foram investigados."
O caso da microempresária Ana
Maria Garcia, 51, é bem típico. Por
mais de dez anos ela conviveu
com terríveis dores de cabeça, que
se intensificavam antes da menstruação. Por associá-la à TPM
(tensão pré-menstrual), o ginecologista receitava remédios contra
enxaqueca. No ano passado, como nem as drogas de última geração faziam mais efeito, ela decidiu
procurar um neurologista.
Ao fazer uma tomografia, veio o
grande susto: tinha um aneurisma que, segundo os médicos, estava prestes a romper. "Eles queriam me operar imediatamente.
Eu e minha família entramos em
pânico", lembra. Em uma semana, ela operou o aneurisma, que
não deixou seqüelas.
Em geral, aneurismas medindo
entre 1 e 2 mm e aqueles localizados em regiões cerebrais em que
não há risco de sangramento (como na entrada do crânio), não
precisam ser operados, bastando
um acompanhamento médico,
avalia o neurorradiologista Michel Frudit, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A incidência de ruptura é maior
após os 40 anos em razão do desgaste natural da artéria e também
devido à associação do tabagismo
e da hipertensão arterial. O aneurisma roto (que rompeu), como o
que acometeu o cantor e compositor Edu Lobo na semana passada, responde por 70% dos casos.
Nessas condições, há uma súbita e dilacerante dor de cabeça,
náuseas, vômitos, convulsões, sonolência e queda das pálpebras.
Um fato que preocupa os médicos, diz Peres, é a relação entre o
cigarro e o tamanho do aneurisma. Pesquisas mostram que 92%
dos pacientes com aneurismas
acima de 24 mm são fumantes. O
cigarro causa degradação da elastina [proteína fibrosa e elástica]
na parede do vaso sangüíneo.
O único tratamento para o
aneurisma é o cirúrgico. Além do
método convencional, que envolve a abertura do crânio e a colocação de um clipe no vaso de onde
se formou a dilatação, uma técnica ainda pouco difundida no Brasil, chamada de embolização endovascular (dentro do vaso), tem
sido eficaz para a redução dos índices de seqüelas e de mortes.
Por meio de um cateter introduzido na virilha, são colocadas pequenas estruturas maleáveis -
molas ou espirais-, que percorrem todo o corpo até o cérebro,
no exato local do aneurisma.
Preenchido o espaço, o sangue
deixa de circular e não haverá
mais pressão sobre as paredes do
vaso, evitando novas rupturas. A
cirurgia é paga pelo SUS.
Para Frudit, as principais vantagens são o fato de o método ser
menos invasivo, o que diminui o
risco de lesões cerebrais, e o tempo de recuperação, que fica reduzido pela metade.
Existem indicações específicas
tanto para a cirurgia tradicional
como para a embolização. Por
exemplo, quando a dilatação fica
perto do nervo óptico, os riscos de
cegueira em uma cirurgia convencional são maiores.
Por outro lado, há casos em que
a estrutura vascular do paciente
não permite a passagem do cateter, como em pessoas com aterosclerose, e a alternativa é mesmo a
cirurgia tradicional.
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