São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Golden retriever relaxa em viagem a Monte Verde

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Blitz é um golden retriever de três anos que vive num apartamento dos Jardins, em São Paulo, e lambe a pata dianteira compulsivamente. A suspeita do veterinário Marcio Capozzoli é que Blitz sofra de "lambedura psicogênica", uma manifestação ligada ao estresse e que aparece como forma de chamar a atenção.
Quando sua dona o leva para Monte Verde, região de montanhas no sul de Minas onde tem uma casa, Blitz se acalma e esquece de lamber a pata.
Marcio e a mulher Rosana Bittencourt, também veterinária, conhecem bem os efeitos do meio ambiente e do estresse. Os dois tinham uma clínica em São Paulo e agora têm uma em Monte Verde. Os gatos castrados, por exemplo, que tendem a se tornar sedentários, sofrem com frequência da "síndrome urológica felina". Na clínica de Monte Verde, esse mal quase não aparece, "porque os gatos têm espaço para brincar".
"Os animais das cidades grandes, que vivem em apartamentos ou pequenos espaços, são muito mais estressados que os daqui", diz o veterinário. "São mais irritados, obesos e caem doentes com mais frequência." Um processo que, não por acaso, também ocorre com seus donos.
Mas já que nem todos -nem animais e nem donos- podem contar com uma casa na praia ou na montanha, alguns cuidados precisam ser tomados para reduzir os danos do sedentarismo.
A falta de exercícios e de espaço está levando a uma epidemia de obesidade entre cães e gatos, alertam os veterinários. O excesso de peso está por trás de uma série de enfermidades, como a insuficiência cardíaca, o diabete, as doenças inflamatórias do intestino, incapacidade renal crônica e os problemas de articulação. "A obesidade é um indicador de riscos para todas as raças", diz Rosemary Viola Bosch, médica veterinária e membro do Conselho Regional.
O diagnóstico clínico, aquele que depende do olhar e do tato do veterinário, continua sendo o meio mais efetivo de se diagnosticar as doenças. "O veterinário observa como o cão abana o rabo, se as orelhas estão baixas, se ele manca", diz Rosemary.
Mas os exames diagnósticos já vem sendo cada vez mais empregados. Só se faz uma cirurgia depois de um hemograma e de um eletrocardiograma. Cães cardíacos, por exemplo, passam a cada quatro ou seis meses por uma bateria de exames: raio-X do tórax, ecocardiograma, medidas da creatina e da uréia, que avaliam função renal, e dosagens das enzimas do sangue.
Os procedimentos adotados para cães e gatos estão cada vez mais parecidos com o dos humanos. Não vai demorar para que sociedades médicas e veterinárias lancem campanhas conjuntas. Neste domingo, por exemplo, quando se comemora o "Dia do Coração", animais e donos participariam de caminhadas juntos. Barracas em praças públicas -para animais e donos- fariam teste de diabetes, mediriam o colesterol e calculariam o IMC, o índice de massa corpórea que indica o peso ideal.
O cenário pode ser de brincadeira, mas é fato que muitos cães "obrigam" ou "incentivam" a fazer atividades físicas. Em alguns casos, limitado pelo espaço e sem incentivo, o cão acaba engordando como o dono.
"É comum o dono comer um salgadinho ou chocolate e dar dois a seu cão", diz Rosemary. Assistindo TV, com o cachorro ou o gato ao lado, essa prática acaba "viciando" os dois. "Você é o que você come. Seu cão também", diz a veterinária.
A indústria vem fazendo sua parte. Os pet-shops oferecem rações diferenciadas para as várias raças, as diferentes idades e condições de saúde. Já há "rações de prescrição" para cães e gatos cardíacos, com insuficiência renal, obesidade, diabetes, com alergias alimentares ou doenças inflamatórias crônicas.


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