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SAÚDE
Células do sangue, que reconstituem medula óssea de portadores de leucemia, podem ser doadas por grávidas
Cordão umbilical é usado em transplante
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O destino do cordão umbilical
do bebê deixou de ser a lata de lixo. Rico em células-tronco, que
são capazes de se transformar em
vários tecidos do organismo, o
sangue do cordão e da placenta
está sendo usado para tratar pacientes portadores de leucemia e
de outras doenças genéticas e auto-imunes que necessitam de um
transplante de medula óssea e que
não têm doador compatível.
Atualmente, há no Brasil pelo
menos 1.500 pessoas nessa situação cadastradas em uma fila de
espera do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea). A maioria é vítima da leucemia, doença que, só no ano passado, matou 4.460 crianças e adultos, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Além de representar uma opção
para quem não tem doador compatível, o uso das células-tronco
de cordão umbilical reduz em até
50% as chances de rejeição, de
acordo com os médicos.
A desvantagem é que esse tipo
de transplante só pode ser feito
em crianças ou adultos que pesem
até 50 kg. Segundo Carlos Alberto
Moreira Filho, 50, coordenador
do Instituto de Ensino e Pesquisa
do Hospital Albert Einstein, acima desse peso, a quantidade de
células fornecida pelo cordão torna-se insuficiente para reconstituir a medula doente.
Ele afirma que estão sendo feitas
pesquisas experimentais com objetivo de multiplicar em laboratório o número de células-tronco
antes da transferência, o que, em
tese, possibilitaria o transplante
em pessoas acima de 50 kg. Outra
opção seria a utilização de dois
cordões compatíveis em um mesmo indivíduo.
Acontece que ainda não há no
país uma grande quantidade de
células armazenadas, o que dificulta a localização de doadores
compatíveis que não sejam parentes. Para Marco Antonio Zago,
56, superintendente do hemocentro do HC de Ribeirão Preto, seriam necessárias pelo menos 12
mil amostras de sangue de cordão
umbilical para que o transplante
de células de pessoas não-aparentadas fosse viável no país.
O problema, porém, não é falta
de doadores de cordão umbilical,
mas sim a inexistência de um programa de saúde pública que financie esse tipo de transplante.
Segundo Luiz Fernando Bouças, coordenador do banco de
sangue de cordão umbilical do Inca, os transplantes feitos até agora
no Brasil utilizaram células de
cordão umbilical obtidas no exterior ou vindas de um bebê da família do doente, geralmente o irmão. A compatibilidade acontece
em 25% dos casos.
Cada amostra de sangue de cordão umbilical comprada no exterior custa em torno de US$ 18 mil,
conforme o hematologista Nelson
Hamerschlak, superintendente
do Instituto de Ensino e Pesquisa
do Hospital Albert Einstein.
Segundo os médicos, as gestantes geralmente aceitam doar o
cordão umbilical por uma questão humanitária. Foi o caso da dona-de-casa paulista Gláucia de Almeida, 34, que deu à luz ao segundo filho na semana passada.
Ela concordou em doar o cordão umbilical do filho aos oito
meses de gestação, após ser entrevistada e submetida a exames de
sangue.
Daqui a três meses, Almeida será novamente entrevistada para
saber se houve algum problema
com a mãe ou com o bebê, como
infecções não percebidas no parto. Em caso de anormalidade, a
unidade de sangue é descartada.
"Tenho dois filhos saudáveis e
quero ajudar a salvar uma vida."
A doação do cordão umbilical é
bem simples. Após o nascimento
do bebê, o sangue do cordão é extraído e, se aprovado nos testes, é
congelado em tanques de nitrogênio líquido.
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