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ENTREVISTA
Nova droga faz diminuir casos de demência
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase um terço dos pacientes
que sofrem um primeiro AVC
(acidente vascular cerebral) acaba
desenvolvendo algum tipo de demência ou sofrendo declínio importante da função cognitiva. Até
agora, quase nada havia a fazer
para impedir essa evolução.
Na quarta-feira passada, na 19ª
reunião da Sociedade Internacional de Hipertensão, realizada em
Praga, um estudo mostrou que o
uso da droga perindopril pode fazer grande diferença. Pela pesquisa, o uso desse anti-hipertensivo
consegue evitar 34% dos casos de
demência e 45% das ocorrências
de perda cognitiva severa.
Os resultados representam a segunda fase do Progress, sigla em
inglês para "estudo da proteção
do perindopril contra o AVC recorrente". A primeira fase dessa
pesquisa de quatro anos, que
acompanhou 6.105 pacientes em
dez países e terminou no ano passado, concluiu que o uso do perindopril reduziu em 26% a ocorrência de um segundo derrame.
O emprego de anti-hipertensivo
beneficiou tanto pacientes com
pressão arterial elevada como pacientes com pressão normal. Até
então, só as vítimas de AVC com
hipertensão é que tomavam drogas para reduzi-la.
"Agora estamos diante de novos resultados importantes", disse Décio Mion Jr, professor da Faculdade de Medicina da USP e
chefe da unidade de hipertensão
do Hospital das Clínicas. Abaixo,
trechos da entrevista que concedeu de Praga, por telefone.
(AURELIANO BIANCARELLI)
Folha - Qual a importância das
conclusões dessa fase do Progress?
Décio Mion Jr - As pessoas que
têm um primeiro AVC passam a
ter de cinco a nove vezes mais risco de sofrer de demência. Até recentemente, não tínhamos nada a
fazer para impedir essa evolução.
Agora temos. Não significa o controle da doença, mas o emprego
desse anti-hipertensivo, o perindopril, leva a uma redução de
34% dos casos, como mostrou o
estudo. É um ganho importante.
Folha - Qual a situação da demência hoje no mundo?
Mion Jr - A demência já é um
grave problema de saúde pública,
que afeta seriamente a vida do paciente e de seus familiares. Em
1997, estimava-se que nos EUA
havia 2,3 milhões de pessoas vítimas da demência. Em 2047, devem ser 8,6 milhões. Cerca de
25% das pessoas acima de 85 anos
têm a doença. Acima dos 95 anos,
o número chega a 50%. A maior
parte dessa demência é devida ao
derrame cerebral.
Folha - Como evitar o derrame??
Mion Jr - A hipertensão e o colesterol elevados estão entre as principais causas, mas diabetes, cigarro, sedentarismo, estresse e o histórico familiar também pesam.
Cada vez mais, os consensos internacionais pregam uma redução da pressão considerada normal. Os limites, que antes estavam
em 14 por 9, hoje são 12 por 8. Níveis acima já merecem cuidados.
O AVC é a causa de morte mais
frequente entre aquelas provocadas por doenças cardiovasculares.
A cada cinco segundos ocorre um
caso de derrame no mundo.
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