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IOGA
Projeto de lei que institui a profissão de professor é defendido por uma ala e contestado por outra, que fundou uma ONG
Regulamentação cria cisão entre seguidores
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
No seu significado mais profundo, a ioga representa a busca do
autoconhecimento, a procura da
união entre corpo e espírito. Seus
seguidores pregam o entendimento, a humildade, a ausência
de ambição. Na prática, pelo menos fora das sessões de meditação
e respiração profunda, não é o
que vem acontecendo.
Um movimento pela regulamentação do profissional de ioga,
cujo projeto de lei já passou pela
Câmara Federal, está revelando
uma cisão raivosa entre os vários
grupos. Divisões entre as modalidades e seus seguidores são tão
antigas quanto a própria ioga, no
mundo todo. O elemento desagregador, agora, é justamente a
adaptação aos tempos modernos,
a necessidade -ou não- de enquadrar dentro da lei os instrutores dessa prática milenar.
A regulamentação da profissão
de professor de ioga, com a criação de conselho federal e regionais, vem sendo capitaneada por
"mestre De Rose", como se intitula Luiz Sérgio Alvarez De Rose, 56,
fundador da "primeira Universidade de Yoga do Brasil". A primeira tentativa de regulamentação foi feita por De Rose em 1978.
A atual, a terceira delas, por
meio de projeto de lei do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), foi
aprovada por unanimidade em
duas comissões da Câmara e
aguarda no Congresso. Com apenas três artigos, o projeto de lei
4.680 cria os conselhos regionais e
estabelece que o ensino de ioga é
prerrogativa dos profissionais registrados nesses conselhos.
De Rose e seus seguidores afirmam que a regulamentação é
uma reivindicação da grande
maioria dos instrutores de ioga.
Os que não acreditam nisso, nem
concordam com a regulamentação, acabam de criar a Aliança do
Yoga, uma ONG que pretende
atuar independentemente dos
conselhos. Anderson Allegro, 38,
eleito diretor executivo dessa
aliança, disse que a reunião de
fundação, no final de semana passado, reuniu cerca de 50 pessoas
em São Paulo. O Movimento Yoga Livre, que circula pela internet,
já teria recebido cerca de 500 assinaturas de profissionais que discordam da regulamentação.
A criação de uma aliança, nos
moldes da existente nos EUA,
permitiria que o exercício da profissão fosse auto-regulamentado,
sem uma interferência direta de
órgãos como os ministérios da
Educação e do Trabalho, que
pouco ou nada entendem de ioga,
afirmam os membros do Movimento Yoga Livre.
"O projeto de lei em discussão é
uma camisa de força nas pessoas
que ensinam ioga, vai impedir a
transmissão do ensino, fechando
muitas escolas tradicionais e burocratizando uma cultura", diz
Pedro Kupfer, 36, professor em
Florianópolis e um dos líderes do
Movimento Yoga Livre.
Kupfer e os que participam desse movimento afirmam que o
projeto de lei representa o interesse de uma minoria de modalidades entre as cerca de 30 praticadas
no Brasil. Quanto ao número de
praticantes e de professores, a situação pode ser inversa. De Rose,
compilador da modalidade
Swásthya Yoga, diz já ter formado
5.000 professores nos últimos
anos e suas escolas afiliadas -ou
franqueadas- somariam 210.
Rosana Ortega, 37, presidente
do Sindicato Nacional dos Profissionais de Yoga e uma das seguidoras de De Rose, diz que o projeto de regulamentação tem o
"apoio de 99%" dos instrutores,
com representantes de "todas as
modalidades". "A preocupação se
deve à desinformação. A regulamentação vai nos proteger, não
nos ameaçar", afirma.
Maria Helena de Bastos Freire,
73, fundadora da Associação Internacional dos Professores de
Yoga do Brasil, diz que o projeto
de lei atende principalmente aos
interesses das franquias de ioga.
Segundo ela, sua associação, fundada ainda em 1971, reúne cerca
de 500 professores.
O movimento pela regulamentação cresceu muito depois que o
Conselho Federal de Educação Física, criado em 1998, passou a exigir das escolas e professores de ioga o registro em seus conselhos
regionais. "A grande maioria das
formas de ioga é vista hoje como
uma atividade física, são alongamentos, ginásticas, ioga fitness,
ioga power. Então, para segurança do praticante, achamos que esses professores precisam ser preparados em curso superior, regulamentado", diz Jorge Steinhilber,
presidente do Conselho Federal
de Educação Física.
"Não estamos fazendo uma reserva de mercado; estamos protegendo a sociedade", afirma Flavio
Delmanto, presidente do Conselho Regional de Educação Física,
de São Paulo. Em muitos casos, a
disputa de mercado vem sendo
resolvida com ações na Justiça.
Quanto ao enquadramento da
ioga e de seus profissionais, o professor José Hermógenes de Andrade, 81 anos e 30 livros, um dos
mais mestres mais reverenciados
no país, diz que alguma forma de
regulamentação é necessária.
"Não fui ouvido, mas, se tivesse
sido, ia sugerir uma aliança, ou
um colegiado, que representasse
todas as tendências." Hermógenes diz que o problema não está
nos conselhos, mas na sua formação. "Ioga é união, humildade,
compaixão, não-autoritarismo.
Mas hoje há um aventureirismo
muito grande, que prejudica a
imagem da ioga autêntica."
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