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Grupos divergem sobre número de praticantes no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem observa de fora, o
universo da ioga pode parecer tão
vasto, complexo e minucioso que
nenhuma legislação conseguiria
enquadrá-la.
Outros, por conta dessas mesmas razões, diriam que a ioga precisa de leis claras e precisas.
Seus números, por exemplo,
são tão impressionantes quanto
incertos. Seguidores do "mestre
De Rose" falam em 5 milhões de
praticantes no país. O Consulado
Geral da Índia estima em 1 milhão. Pedro Kupfer e Anderson
Allegro, da Aliança do Yoga,
acham que não chega a isso.
O Movimento Yoga Livre diz ter
identificado cerca de 30 formas
ou modalidades de iogas praticadas no Brasil. Nos seus textos, De
Rose diz que as modalidades passam de cem, e que pelo menos 50
têm praticantes no Brasil.
Originária da Índia, onde seria
praticada há 5.000 anos, a ioga se
esparramou em dezenas de nomes e modalidades, dependendo
do mestre que a ensinava ou da
região onde era praticada. Há a ioga mais meditativa, a espiritual, a
que usa os sons, a energia sexual, a
dos movimentos clássicos, com
respiração e relaxamento. E há as
contemporâneas às academias, a
fitness ioga, por exemplo, ou malhações com um toque zen, que
atraem cada vez mais seguidores.
Nos EUA, estima-se que o número de praticantes cresceu 40%
em quatro anos. No Brasil, onde
não há números, acredita-se que
o crescimento seja parecido.
Um mercado tão grande, envolvendo os interesses de tantos
clientes, não pode ficar sem regras
nem prescindir da vigilância do
Estado, afirmam os que defendem a regulamentação. Um praticante que sofra uma lesão por
exercício mal feito, ou outro que
se sinta enganado, deverá recorrer a quem? Os conselhos de educação física alegam questões como essa para exigir que escolas e
professores de iogas sejam fiscalizados por eles.
O projeto de lei, que daria um
arcabouço legal aos profissionais
da ioga, peca pela imprecisão. Seu
texto de página e meia não define
o que é ioga, não diz como serão
eleitos os conselheiros nem faz referência à formação necessária
para os instrutores.
Em contrapartida, o projeto de
Aldo Rebelo dedica o parágrafo
único do artigo 1º para estabelecer
que "os dispositivos desta lei aplicam-se aos profissionais de Yôga,
Yóga, ioga, independentemente
da grafia e pronúncia adotadas,
sem discriminações".
Foi "mestre De Rose" quem introduziu no Brasil a "yôga", com
acento circunflexo. Foi ele também quem levou para a universidade os cursos de ioga como extensão universitária. Segundo ele,
um curso superior de ioga já está
funcionando na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Alunos seus que desejam ensinar são formados em três blocos
de quatro anos cada: grau de instrutor assistente, docente e mestre. Segundo ele, o exame e a habilitação são realizados pelas federações de cada Estado.
Mesmo aliados de De Rose, que
não querem seus nomes divulgados, afirmam que ele nunca admite "ser segundo", nem costuma
consultar a categoria para falar
em nome dela. Sabe fazer lobby.
Durante a votação do projeto de
lei, ele lotou os corredores da Câmara com instrutores que ensinaram exercícios de relaxamento
aos deputados.
Ex-alunos dissidentes de De Rose dizem que ele "é o McDonald"s
da ioga". O "mestre" diz compreender tal reação. "Na arte marcial, como na ioga, o bom discípulo é aquele que vai querer matar o
mestre, para provar que ficou tão
bom quanto ele."
(AB)
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