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SP gasta R$ 92 mi ao ano para tratar as "doenças do cigarro"
Esse foi o valor gasto em 2007 na rede pública, segundo cálculo da Secretaria da Saúde
Com essa quantia é possível custear por um ano o funcionamento de dois hospitais de médio porte, com 200 leitos cada um
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
No Estado de São Paulo, os
pacientes que estão sendo tratados de doenças provocadas
pelo cigarro custaram à rede
pública de saúde, no ano passado, pelo menos R$ 92 milhões.
O cálculo foi feito, a pedido
da Folha, pela Secretaria de
Estado da Saúde e inclui os gastos que o Ministério da Saúde,
o governo estadual e as prefeituras paulistas tiveram em
2007 com internações de pacientes e sessões de quimioterapia e radioterapia.
Anteontem, o governador
José Serra (PSDB) enviou à Assembléia Legislativa um projeto de lei que proíbe o cigarro
em todos os ambiente coletivos
fechados, até mesmo nos chamados fumódromos. Se aprovada a lei, só será permitido fumar ao ar livre e dentro de casa.
Um dos argumentos do governo é justamente o gasto elevado do tratamento das doenças decorrentes do fumo. Reconhecido como doença, o tabagismo dá origem a outros 56
males, como diversos tipos de
câncer, bronquite, osteoporose
e até impotência sexual.
Os R$ 92 milhões que o SUS
(Sistema Único de Saúde) gastou no ano passado no Estado
de São Paulo foram para o tratamento de pacientes com câncer (principalmente de pulmão, laringe e esôfago) e doenças cardíacas e circulatórias.
Foi considerada a fração dessas
doenças que, de acordo com a
literatura médica, tem origem
no cigarro. Isso varia de acordo
com a doença; no caso de câncer de pulmão, 90% dos casos
têm o fumo como causa.
Com essa quantia é possível
bancar por um ano o funcionamento de dois hospitais públicos de médio porte, com cerca
de 200 leitos cada um.
"É um volume expressivo de
recursos, especialmente se levarmos em conta que essas
doenças podem ser prevenidas", diz o secretário estadual
da Saúde de São Paulo, Luiz
Roberto Barradas Barata. "E a
questão não são apenas os recursos, mas a qualidade de vida. Os cânceres de pulmão, bexiga, laringe e esôfago, por
exemplo, são doenças muito
graves ligadas ao tabagismo. As
pessoas definham, têm uma
morte lenta e dolorosa."
Segundo a economista da
saúde Márcia Pinto, da Fundação Oswaldo Cruz, o valor que
se gasta com internações, quimioterapia e radioterapia é
"apenas a ponta do iceberg".
Ela lembra que as doenças
decorrentes do tabaco incluem
exames, remédios, os chamados cuidados paliativos e até
mesmo as aposentadorias por
invalidez e as pensões que passam a ser pagas precocemente.
"Quando morre ou se aposenta
por invalidez, a pessoa deixa de
produzir", acrescenta.
No final do ano passado,
Márcia defendeu na Escola Nacional de Saúde Pública um
trabalho de doutorado em que
calculou os custos do SUS com
as doenças do cigarro. De acordo com ela, só com os novos casos de câncer de pulmão, esôfago e laringe, o dispêndio anual
é de cerca de R$ 1,12 bilhão. Um
doente de câncer de pulmão
avançado, por exemplo, custa
R$ 29 mil até sua morte ou alta.
A médica sanitarista Tânia
Cavalcante, que coordena no
Inca (Instituto Nacional de
Câncer) o Programa Nacional
de Controle do Tabagismo, elogia o projeto de lei apresentado
em São Paulo. "Não existem níveis seguros de exposição à fumaça do cigarro", diz ela.
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