|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Transplante custaria R$ 80 mil, diz paciente
Corretor de imóveis já estava anestesiado quando soube que a cirurgia havia sido impedida por causa de irregularidades
Ele afirma que receberia um fígado "marginal", em um transplante particular, após negociar com o grupo do médico Joaquim Ribeiro
DA SUCURSAL DO RIO
Vítima de hepatite C e precisando de um transplante de fígado, o corretor de imóveis de
São José dos Campos (interior
de SP), Frederico Sattelmayer
Júnior, 46, tinha o nome nas
listas de espera de São Paulo e
do Rio de Janeiro quando recebeu um telefonema animador
numa noite de domingo, no ano
passado.
Precisava viajar urgentemente para o Rio, onde um órgão "marginal" seria designado
para ele. O corretor de imóveis
receberia o transplante mediante o pagamento de R$ 80
mil ao médico Joaquim Ribeiro
Filho, que foi preso ontem pela
Polícia Federal.
Segundo seu pai, ele alugou
um táxi aéreo e voou para o Rio,
onde foi internado na clínica
São Vicente. Anestesiado e
pronto para ser operado, recebeu a notícia de que a Central
Estadual de Transplantes do
Rio impediu a cirurgia, alegando irregularidade. A mulher
ainda tentou recorrer à Justiça,
mas não teve sucesso.
A seguir, a entrevista de Sattelmayer Júnior à Folha:
FOLHA - Por que o sr. não conseguiu ser operado?
FREDERICO SATTELMAYER JÚNIOR -
Ligaram para avisar que havia
um órgão marginal no Rio.
Quando é assim, sai da lista de
transplantes. Mas a coordenadora de transplantes do Rio de
Janeiro não deixou, e o fígado
foi perdido. O órgão "marginal"
é quando não está nas melhores
condições, não é 100%. Cheguei a ser anestesiado.
FOLHA - O sr. ficou frustrado quando não conseguiu ser operado?
SATTELMAYER - Na verdade, foi
ótimo, porque não fiz e acabei
sendo operado em São Paulo,
recebendo um órgão perfeito,
doação de um primo, em vida.
Na clínica no Rio de Janeiro,
peguei infecção. Nem poderia
mais fazer.
FOLHA - Como o sr. conheceu Joaquim Ribeiro Filho?
SATTELMAYER - Fiquei sabendo
que ele tinha uma equipe médica no Rio e fiz uma consulta
com um médico de seu grupo,
aqui em São Paulo, e, depois,
com ele, no Rio.
FOLHA - O transplante seria pelo
SUS, plano de saúde ou particular?
SATTELMAYER - Particular.
FOLHA - Quanto custaria?
SATTELMAYER - O valor não foi
acertado, porque não aconteceu, mas era estimado em
R$ 80 mil.
FOLHA - E quanto o sr. pagou depois, em São Paulo?
SATTELMAYER - Foi mais caro,
praticamente o dobro, porque
tive de pagar para o meu primo,
doador, fazer a cirurgia de retirada. Desfiz-me de alguns bens
para pagar, mas depois corro
atrás disso.
FOLHA - O sr. está bem hoje?
SATTELMAYER - Estou bem, graças a Deus. Tive recaída em novembro, a hepatite C voltou,
com cirrose, mas o tratamento
teve bom resultado.
Texto Anterior: Saiba mais: Fila deixou de ser por ordem de chegada Próximo Texto: Outro lado: Médico não furou fila de transplantes, dizem advogadas Índice
|