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PATRIMÔNIO
Pesquisadores e representantes de governos polemizam sobre preservação de bens históricos e exploração turística dos mesmos
Restauro de fortes provoca guerra de idéias
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ITAMARACÁ (PE) E SANTOS (SP)
Uma nova guerra envolve as
fortalezas históricas brasileiras.
Mesmo centenárias, várias nunca
dispararam um tiro contra um
inimigo. Mas desta vez o tiroteio é
com palavras e ações polêmicas
de restauro e "restauro".
O conflito é entre diferentes
concepções de preservação, restauração, pesquisa arqueológica e
paisagismo. Os combatentes incluem arquitetos, arqueólogos e
historiadores, representantes de
governos e funcionários do patrimônio histórico.
O desafio é como preservar o
bem tombado e, ao mesmo tempo, tornar o monumento um bem
cultural usado pela população.
Mas nem sempre o que é bom para o turismo é correto em termos
de preservação do patrimônio.
Quatro exemplos recentes revelam o estado dessa "guerra".
O Forte do Castelo ou do Presépio em Belém (PA) passou por
uma polêmica restauração. O trabalho de arqueologia revelou estruturas desconhecidas da fortificação. Mas um muro do século 19
foi derrubado, deixando um portão isolado e, segundo os críticos,
descaracterizando o forte, já que
nenhuma obra de defesa dispensa
uma muralha defensiva.
A Secretaria Executiva de Cultura, estadual, defendeu e realizou a
destruição do muro, apesar de parecer contrário de técnicos federais do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A prefeitura foi contra.
"Um muro de aproximadamente 142 anos de existência não é um
muro qualquer, principalmente
um muro que está integrado a um
dos maiores patrimônios históricos de Belém e do Estado do Pará", declarou, em artigo disponível na internet, o sociólogo Aloysio Antonio Castelo Guapindaia,
da Fumbel (Fundação Cultural do
Município de Belém) -em
http://www.prefeituradebelem.com.br/artigo.asp?artigo- id=307.
O problema vai além disso.
Muitos canhões de valor histórico -vários muito raros- estão
dispostos de modo "criminoso",
segundo Adler Homero Fonseca
de Castro, historiador do Iphan.
Foram colocados diretamente sobre a grama e com a boca para cima, assegurando o acúmulo de
água e de lixo.
"Quero deixar claro que essa colocação dos canhões não foi feita
por nós", diz o arquiteto José Luiz
Brenna, que trabalha no escritório de paisagismo da arquiteta
Rosa Grena Kliass. Tanto em Belém como em Macapá, as obras de
paisagismo foram projetadas por
esse escritório, de São Paulo.
As obras na Fortaleza de São José de Macapá (AP) param e prosseguem de acordo com as mudanças do governo estadual. Já
são três administrações estaduais
que ora interrompem, ora continuam a restauração. Obras de
paisagismo inauguradas no ano
passado já estão de novo abandonadas e fechadas.
Em Macapá, o projeto de paisagismo ficou pronto antes da conclusão das escavações arqueológicas. O resultado é a paralisia ocasional das obras, e a necessidade
de rever o projeto com base nos
achados.
O trabalho cientificamente correto dos arqueólogos nessas duas
cidades se repetiu no Forte de
Orange, em Itamaracá (PE), onde
foram achadas peças e estruturas
raras pela equipe de Marcos Albuquerque, da UFPE (Universidade
Federal de Pernambuco), a mais
experiente do país na área.
Mas o forte precisa de restauração urgente. Há pedras das muralhas soltas por toda parte.
Restauração é o que não falta
nas fortificações do litoral paulista, na Baixada Santista -caso da
Fortaleza de Itaipu (Praia Grande), Forte de São Tiago ou São
João da Bertioga (Bertioga) e Fortaleza de Santo Amaro da Barra
Grande (Guarujá).
Em compensação, quase nada
se fez de pesquisa arqueológica
em São Paulo -nem passar um
detector de metais. Apenas em
Bertioga se usou um geo-radar
para sondar a estrutura. Dada a
antiguidade do fortim, é provável
que objetos interessantes estejam
enterrados em torno dele.
O resultado dessas quatro batalhas não tem interesse apenas local. Muitas cidades brasileiras têm
fortificações históricas, com graus
variados de preservação.
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