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CAMPOS DO JORDÃO
Comércio de temporada "rouba" lucro local
ISABELA SALGUEIRO
DAS REGIONAIS
O inverno nada rigoroso de julho pode ter prejudicado a temporada deste ano em Campos do
Jordão, mas, para a Associação
Comercial e Industrial da cidade,
não foi o motivo principal para a
queda de 20% registrada nas vendas em relação ao ano passado.
Para o presidente da entidade,
José Carlos Fernandes, o que gerou menor lucro foi o chamado
comércio sazonal, que se instala
na cidade só na temporada de inverno. Também devido aos "sazonais", diz Fernandes, os restaurantes foram os mais afetados
-tiveram 30% a menos de lucro.
Fernandes atribuiu esse quadro
a um decreto baixado no início
deste ano pelo prefeito Lélio Gomes (PSB), depois transformado
em lei pela Câmara -o Duli (Documento Único de Liberação).
"Além do frio, que não veio, teve a situação [econômica]. Mas o
decreto do prefeito que permitiu
que restaurantes se instalassem
na cidade foi o principal motivo
[para a queda nas vendas]", disse.
A afirmação foi confirmada pela
própria prefeitura, que, por meio
de sua assessoria, admitiu ter perdido o controle da situação do comércio sazonal. A assessoria informou que a lei foi revogada,
pois vai passar por alterações.
O prefeito, segundo a assessoria, reconheceu que o Duli não
surtiu o efeito esperado. A prefeitura, com ele, pretendia simplificar o processo por que passa
quem quer autorização para abrir
um estabelecimento comercial.
O problema ocorreu, segundo a
assessoria, pois alguns comerciantes pediam autorização para
certo tipo de atividade e acabavam exercendo outras, além da
autorizada. Por exemplo: a permissão para vender algum produto era esticada e, no local, abria-se
um restaurante. Com o Duli, os
comerciantes sentiram-se no direito de exercer qualquer atividade e acabaram burlando a lei.
Isso não significa que todas as
pessoas que abriram estabelecimento em Campos no inverno
usaram o documento incorretamente. Nem que a prefeitura, em
2004, negará autorizações a quem
quiser se instalar na temporada.
Segundo a assessoria, o município não vai barrar comerciantes,
desde que sejam pagos os impostos de cada atividade exercida.
Mas, segundo a assessoria, o número de pedidos de instalação de
comercial sazonal caiu de cerca de
200, no ano passado, para 150.
Segundo a Secretaria de Estado
da Cultura, 80 mil pessoas visitaram a cidade no Festival de Inverno deste ano -77 mil em 2002 e
70 mil em 2001. Na temporada, segundo a Secretaria de Turismo de
Campos, a cidade recebeu cerca
de 1,5 milhão de pessoas.
Perfil de Campos
Se de um lado está o comércio,
que reclama da queda dos lucros,
do outro está a rede hoteleira, que
não pode dizer o mesmo. Segundo o presidente da Associação de
Hotelaria e Gastronomia da cidade, Abdou Antônio Farah, o setor
teve um movimento tão bom
quanto o do ano passado. Mas a
associação não tem números do
desempenho do setor.
O setor, diz Farah, adotou estratégia nova neste ano: valorizar todas as estações, não só o inverno.
"Nós não estamos medindo só a
temporada de inverno, só julho.
Nessa média, estamos melhores
que no ano passado", informou.
Farah disse que, "pelo que soube", o comércio percebeu queda
nas vendas. Para ele, a causa, além
do Duli, foi a mudança de perfil
dos visitantes. Farah acredita que
os frequentadores de Campos não
estão interessados em ver na cidade o que já presenciam todos os
dias onde vivem.
"Temos que nos adaptar, entender o comportamento do cliente.
Se [o visitante] encontra no comércio uma mesmice, [o comércio] não atrai mais os clientes."
Ele acredita que o público notou
que a melhor época para visitar a
cidade não é a lotada temporada
de inverno, mas que esse ainda é
um dos atrativos principais, mesmo mais quente que o normal.
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