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SAÚDE
Ginecologistas recomendam objetos encontrados em sex shops; uso terapêutico não é consensual entre profissionais
Produtos eróticos ganham aval de médicos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ginecologistas têm sugerido às
suas pacientes o uso terapêutico
de produtos eróticos para tratamento de casos de má-formações
e atrofia da vagina, incontinência
urinária e disfunção sexual. Não
estranhe, portanto, se receber de
seu médico a indicação de uma visita ao sex shop.
Alguns dos apetrechos vendidos nessas butiques eróticas, associados a exercícios com orientação profissional, têm a função
de "reabilitar" o assoalho pélvico
-musculatura que sustenta o
útero, o intestino e a bexiga.
Em mulheres, esses músculos
podem ser lesados durante o parto vaginal e perdem ainda mais
força à medida que os níveis hormonais se reduzem durante o período da menopausa. O problema
mais frequente é a incontinência
urinária -que afeta 25% das mulheres de até 60 anos.
Desde que feitos com acompanhamento de um terapeuta, exercícios com pequenos cones plásticos de diferentes pesos, introduzidos no canal vaginal, fortalecem a
musculatura e, em alguns casos,
podem evitar as cirurgias de reconstituição do períneo e de "levantamento" da bexiga, afirma a
ginecologista Raquel Figueiredo,
responsável pelo núcleo do assoalho pélvico do Hospital do Servidor Público Estadual.
Segundo Figueiredo, 60% das
mulheres com incontinência urinária de esforço melhoram com a
fisioterapia. "A mulher deveria fazer exercício para fortalecer a
musculatura do assoalho pélvico
durante toda a vida. Ela sustenta
órgãos muitos importantes e não
pode ser esquecida", afirma.
Outros produtos eróticos que
costumam ser sugeridos pelos ginecologistas são os massageadores vaginais, associados a géis lubrificantes, para casos de atrofia
vaginal (perda da elasticidade e
afinamento) ou vaginismo (dor
na vagina), provocados pela queda dos níveis de estrogênio, após a
menopausa. A atrofia vaginal
causa dor ou desconforto durante
a relação sexual.
Próteses penianas de diferentes
tamanhos também têm sido indicadas por médicos para casos de
má-formação da vagina em que é
preciso dilatar o canal do órgão.
"Não só indico para as minhas
clientes como, às vezes, vou até à
butique erótica para escolher o
modelo certo para a pessoa certa",
afirma a ginecologista e obstetra
Tânia das Graças Mauadie Santana, 55, chefe dos serviços de planejamento familiar e de sexologia
do Hospital Pérola Byington.
De acordo com Santana, no tratamento de alguns tipos de má-formação vaginal é mais barato a
mulher comprar as próteses penianas nas butiques eróticas, a
preços que variam de R$ 30 a R$
60. Nas lojas de produtos hospitalares, os moldes de acrílico seriam
vendidos, em média, a R$ 700.
"Para casos em que é preciso dilatar o canal vaginal, as próteses
vendidas em sex shop cumprem
perfeitamente a função", relata a
ginecologista Cláudia Gazzo, responsável pelo setor de reprodução do hospital do servidor.
Segundo Edmund Chada Baracat, professor da Unifesp e presidente da Febrasgo (Federação
Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), não existem evidências científicas que
comprovem que os moldes de
acrílico possam ser substituídos
por próteses vendidas nas butiques eróticas. "Acho temerosa a
compra desses produtos."
Segundo ele, para casos de agenesia parcial da vagina (um tipo
de má-formação em que a mulher
só possui a entrada vaginal), são
indicados moldes penianos confeccionados sob medida para a
paciente. "À medida que a vagina
vai sendo aprofundada, o molde
deve ser substituído", afirma.
O ginecologista Marcelo Zugaib, professor de obstetrícia na
USP (Universidade de São Paulo),
afirma ter ficado surpreso com a
informação de que há produtos
usados no tratamento de má-formação vaginal e de incontinência
urinária sendo vendidos em sex
shop. "Nunca ouvi falar nisso."
Segundo ele, as mulheres com
esses problemas só devem consumir os produtos se houver indicação do médico e com acompanhamento de um especialista em
reabilitação do assoalho pélvico.
"Só ele poderá avaliar o objeto indicado para o caso e se, por exemplo, a musculatura está reagindo
aos estímulos", afirma.
Nos casos de disfunção sexual
feminina -mulheres que não
atingem o orgasmo, por exemplo-, médicos e terapeutas acreditam que uma visita ao sex shop
pode ser bastante benéfica.
"Os produtos eróticos aumentam o desejo sexual", diz a médica
Tânia Santana. Ela afirma que,
após visitar uma butique erótica,
as pacientes voltam com uma
"idéia elegante da sexualidade".
Segundo a psicóloga e terapeuta
sexual Silvia Cavicchioli, proprietária de uma butique erótica que
só atende pacientes indicadas por
médicos, muitas das mulheres
atendidas sentem dor na relação
sexual ou têm medo da penetração ou são anorgásmicas.
"Nesse casos, é preciso ter sensibilidade para indicar produtos
que vão ajudá-la a explorar o corpo e colocá-la em contato com as
zonas erógenas", afirma. A butique de Cavicchioli, que só atende
com hora marcada, não possui
nome na porta e se confunde com
qualquer outra casa do Planalto
Paulista, zona sul da capital.
"A mulher deve perder o preconceito de sentir prazer. Ir a um
sex shop não é coisa de psicopata.
É supersaudável para a relação do
casal", diz Raquel Figueiredo.
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