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Moradores questionam teleférico na Rocinha
Região teria outras prioridades, como fim do esgoto a céu aberto
Governo alega que projeto resolveria mobilidade; meio de transporte virou ponto turístico no Alemão
Cartão-postal das obras em favelas do Rio, o teleférico enfrenta resistência de parte dos moradores como solução de mobilidade nessas áreas agora que a execução de seu terceiro exemplar começa a sair do papel.
Inspirado em uma experiência colombiana, o primeiro foi instalado no Complexo do Alemão após a retomada das favelas pelas forças de segurança em 2010.
Agora que o governo se prepara para construir um novo, na Rocinha (zona sul), um grupo de moradores se mobiliza para impedir a obra.
Eles dizem que a favela tem outras prioridades --o fim do esgoto a céu aberto, por exemplo-- e defendem que o investimento de R$ 1,6 bilhão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) seja concentrado nesse fim.
O governo aponta o teleférico como a solução para a mobilidade e diz que as obras do PAC resolverão parte dos problemas de saneamento.
No Alemão, quase um terço dos 60 mil moradores se inscreveu para fazer as duas viagens gratuitas diárias a que têm direito. A utilização média é de 12 mil viagens por dia (metade da capacidade), dos quais 30% são turistas.
Para críticos, os números provam que o teleférico do Alemão é subutilizado.
"Fizeram as estações no topo [dos morros]. Só é utilizado por quem mora no entorno", afirma Alan Brum, morador e coordenador do Instituto Raízes em Movimento.
O governo argumenta que seu uso está crescendo mais rápido do que o esperado.
Ao custo de R$ 253 milhões --34% do total gasto em obras no Alemão--, o objetivo é atender moradores que tinham que subir ladeiras e escadarias com mais de 500 degraus para chegar em casa.
A maioria usa o transporte na volta para casa.
POLÊMICA
O segundo teleférico do Rio foi concluído neste ano na favela da Providência (centro). A prefeitura ainda define como ele será operado.
O terceiro, da Rocinha, está previsto no projeto do PAC.
Há cerca de dois meses, moradores da favela da zona sul aproveitaram a onda de manifestações e colocaram mais de 3.000 pessoas nas ruas contra o teleférico.
O grupo pede a solução das valas negras de esgoto que cortam becos da favela.
Nas reuniões que promove na comunidade para quebrar a resistência à obra, o Estado afirma que vai resolver os problemas de drenagem.
"Para resolver 100% o problema de infraestrutura da Rocinha, tem que tirar 30% [dos moradores]", disse a arquiteta Daniela Javoski, que elabora o projeto para o Estado, numa das reuniões.
"Esse número o Estado tirou do bolso. Não há estudo para saber quantos deveriam ser retirados", rebate o arquiteto Luiz Carlos Toledo, que coordenou o plano diretor da favela feito há seis anos com arquitetos e moradores.