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Teleférico leva turista à favela, diz arquiteto
De acordo com autor do projeto do Complexo do Alemão, área que antes era excluída passou a ser valorizada
Atualmente, os turistas representam 30% dos usuários no Alemão durante a semana e 60% no final de semana
Além da presença nas propagandas do governo, as imagens do teleférico também inundaram as câmeras fotográficas de turistas da cidade. Segundo dados da Supervia, que opera o sistema, em média 3.600 passageiros por dia não moram na favela.
Embora a mobilidade dos moradores seja a justificativa central para a construção do sistema de cabos, há quem defenda a obra também por seu simbolismo.
Autor do projeto do teleférico do Alemão, o arquiteto Jorge Mário Jáuregui diz que a obra "modificou o imaginário da cidade sobre a favela".
"Independentemente de qualquer consideração sobre o uso, ele transformou uma área de exclusão em uma área de visitação", disse ele.
Os turistas pagam R$ 10 para circular no teleférico --R$ 5 cada sentido. Na estação terminal, Palmeiras, uma pequena feira vende produtos artesanais. Algumas crianças pedem esmolas. Não há qualquer indicação sobre caminhos dentro da favela.
Durante a semana, eles representam 30% dos que usam o sistema. No fim de semana, a taxa chega a 60%. A Supervia considera como turista quem compra passagem em bilheteria --excluindo, portanto, os cariocas que têm o cartão Bilhete Único.
VALORIZAÇÃO
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) já afirmou que o teleférico da Providência, concluído, mas ainda fora de operação, não tem como principal função a mobilidade, mas sim valorizar a região do centro e a favela.
"A Providência é a primeira favela do Rio. E o Rio é uma cidade que não pode ter vergonha de favela", disse o prefeito, em julho.
Críticos apontam que o turismo gerado pelo teleférico não beneficia a comunidade.
"É um turismo exótico de cabo, que não contribui para a desconstrução do preconceito sobre a favela, porque não conhece o espaço", disse Alan Brum, do Instituto Raízes em Movimento.
"[O turista] só vê como vivem e um emaranhado estranho. Não mexe com a economia local porque ninguém circula pela favela."
O projeto na Rocinha prevê uma estação dedicada quase exclusivamente ao turismo, no Parque Ecológico da favela.