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Candidata a patrimônio mundial, vila tenta resistir ao abandono
Moradores de Paranapiacaba, na zona rural de Santo André, impediram destruição de trens
Vagões e locomotivas antigos ganharão memorial e reforma; museu local precisa de restauração
De uma passarela que leva à parte alta da vila ferroviária de Paranapiacaba, no ABC paulista, moradores observam o que restou do Estrela.
O trem, feito na Inglaterra em 1937, passou anos parado, sendo consumido pela ferrugem nesse distrito da zona rural de Santo André.
Agora, o Estrela deve sair da paisagem local -restará apenas o motor, que deve ganhar um memorial.
Nova candidata a patrimônio mundial, em avaliação a ser feita neste mês por um comitê ligado à Unesco, a Vila de Paranapiacaba se divide entre o cenário de abandono e ações de resistência de alguns moradores.
Foram eles que impediram que o coração do Estrela, último sobrevivente de um grupo de trens, fosse ao lixo.
O pedido foi feito ao Ministério Público Federal, assim que souberam que os trens virariam sucata. "O que é lixo para alguns, para nós é a história", afirma o presidente da associação de monitores locais, Eduardo Pin.
A MRS Logística, empresa responsável pelo pátio ferroviário desde 1997, fechou acordo: além do memorial, serão recuperados duas locomotivas e outros três vagões deteriorados no pátio.
Há ainda 17 vagões, seis carros de passageiros e dois veículos de serviço que não resistiram à ação do tempo e devem ser removidos do local.
Segundo o procurador Steven Zwicker, a autorização para o descarte ocorreu após as peças serem consideradas irrecuperáveis. Além disso, atraíam ratos e mosquitos, com risco à saúde pública, diz o procurador.
Em setembro, Paranapiacaba foi incluída no PAC Cidades Históricas -o qual deve destinar R$ 42,4 milhões para revitalização local.
A expectativa é que a vila volte a ser como em 1860, na época da São Paulo Railway Company -o que também causa polêmica por lá (leia texto ao lado).
Perto dali, outro espaço aguarda restauro: o Museu do Funicular. Em um dos galpões centenários estão trens históricos, como um vagão usado por D. Pedro 2º em 1879 e uma das primeiras locomotivas da ferrovia, de 1862.
"Está muito abandonado. Cada vez que vou lá, saio chorando", diz Zélia Paralego, 62, que cresceu na vila.
Para resolver o problema, a ABPF-SP (associação de preservação ferroviária), que deve ganhar a cessão da área neste ano, planeja arrecadar recursos e recuperar galpões, máquina e locomotivas.
O diretor de patrimônio histórico da ABPF, Carlos Alberto Rollo, tem ainda outro sonho: fazer a máquina funicular e uma das primeiras locomotivas da ferrovia funcionarem para turismo. "Se conseguirmos, trago até a rainha da Inglaterra para ver", brinca.