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Nem vem, Cabral

Índios dizem que irão recusar qualquer proposta do governador do Rio para deixar área ao lado do Maracanã

DIANA BRITO DO RIO

Não vai adiantar o governo do Rio fazer propostas. Os índios que, desde 2006, ocupam o antigo Museu do Índio já decidiram que nada os convencerá a sair de lá.

O motivo é simples: situado ao lado do Maracanã, o ponto é considerado pelos indígenas como comercialmente muito forte. Os turistas que visitam o estádio costumam passar pela área ocupada e comprar suas peças de artesanato.

O movimento caiu desde que o estádio entrou em obras, mas a perspectiva de bons negócios na Copa das Confederações, em junho, e na Copa de 2014 anima o grupo.

"É o ponto mais importante de venda de artesanato para os indígenas no país, por causa da visitação", diz Arão Araújo Filho, presidente do Conselho Nacional dos Direitos Indígenas e advogado dos índios.

O governo Sérgio Cabral (PMDB) quer demolir o imóvel também pensando no estádio -a ideia é facilitar o acesso. Para o governador, a atitude dos índios "é uma ação política que tenta impedir algo que vai servir a milhões de brasileiros".

"Chamar aquilo de aldeia indígena é um deboche, porque aldeia indígena tem 300, 400, 500 anos", disse o governador, referindo-se ao fato de os índios terem ocupado o antigo museu em 2006.

RENDA DE R$ 1.000

Segundo o advogado dos índios, ao menos 40 deles trabalham com artesanato -e faturam, em média, R$ 800 a R$ 1.000 por mês, cada um, vendendo bijuterias, sabonetes de ervas medicinais e instrumentos como maracas (espécie de chocalho) e kolutas (flautas).

Sabonetes e bijuterias feitas de semente custam entre R$ 10 e R$ 20. A koluta sai a R$ 250 e a maraca, R$ 120. O artesanato mais sofisticado é o colar de caramujo que, dependendo do tamanho, custa de R$ 150 a R$ 550.

"Não é todo índio que faz esse trabalho. É duro porque demora uns dois meses para ficar pronto e tem que ter paciência para cortar e lixar o material", explica o pajé Kunué, 80, do grupo Kalapala, do Xingu (MT).

De acordo com o defensor público Daniel Macedo, que entrou na Justiça Federal com uma ação civil pública para impedir a demolição, vivem ali entre 50 e 60 índios.

Há ainda uma população flutuante -índios que passam alguns dias e voltam para suas regiões- que eleva o total a cerca de 150 pessoas.

O cacique Carlos Tukano diz que há índios de diversas etnias, como a Guajajara, do Maranhão, a Guarani, de Parati (RJ), a Tabajara, do Ceará, a Pataxó, do sul da Bahia, a Ianomâmi, de Roraima, e a Tukano, do Amazonas.

Eles se abrigam em ocas construídas no entorno do prédio do antigo museu.

Desde que começou o movimento para impedir a demolição do espaço, estudantes vivem em barracas dentro do imóvel, sob o risco de serem atingidos por pedaços de reboco e de madeira que ameaçam despencar.

Eles dizem fazer parte de "movimentos de esquerda" -sem dizer quais- e que estão lá para "apoiar a causa".

À noite, em reunião com representantes da Secretaria de Assistência Social, os índios pediram que seja apresentada uma proposta por escrito explicando o que se planeja fazer, mas disseram que não aceitam a remoção.

FAMÍLIA REAL

A área disputada por governo e índios pertenceu ao Duque Luís Augusto de Saxe, marido da princesa Leolpoldina, filha mais nova de D. Pedro 2º. Ali, entre 1850 e 1890, ficava o Palácio Leopoldina.

Em 1915, o marechal Rondon criou, no prédio, o Serviço de Proteção ao Índio, atual Funai. Em abril de 1953 foi criado o Museu do Índio.

Em 1977, quando era dirigido por Darcy Ribeiro, o museu foi transferido para Botafogo, zona sul. Os índios ocuparam o espaço, que estava abandonado, em 2006.


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