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NO LIMITE
Setores de energia e telefonia têm as piores previsões; AES avalia se "negócio pode ser melhorado ou vendido"
Múltis americanas têm "pé atrás" com Brasil
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
As maiores empresas americanas com investimentos diretos no
Brasil mantêm uma avaliação negativa das suas operações no país.
Além disso, indicam, nos balanços que publicaram nos EUA, que
devem continuar restringindo investimentos na ampliação da capacidade instalada para economia brasileira.
No setor de infra-estrutura, o
pessimismo com o Brasil nas
áreas de energia e telefonia, principalmente, é ainda maior. O segmento é vital para a retomada de
um crescimento sustentável que
não comprometa as exportações e
ameace as metas de inflação.
Para as americanas voltadas ao
consumo, as recentes oscilações
da taxa de câmbio e os juros altos
levam à conclusão de que a economia brasileira ainda é frágil, e
novos investimentos, arriscados.
Para várias empresas, ganhos
obtidos na América Latina no primeiro trimestre de 2003 foram
corroídos em boa medida por
perdas no Brasil e na Argentina.
Essas conclusões constam dos
balanços de 11 grandes companhias americanas com negócios
no Brasil registrados até a semana
passada na SEC (Securities and
Exchange Commission, a comissão de valores mobiliários dos
EUA) e compilados pela Folha.
As reclamações vão de empresas de primeira linha da área de
consumo como Coca-Cola, Kodak e Xerox, ao setor financeiro,
como o Fleetbostoon, controlador no Brasil do BankBoston.
Empresas do setor intermediário, como a Monsanto, também
mantêm a disposição de diminuir
os riscos relacionados ao Brasil.
É na área de infra-estrutura, no
entanto, que o quadro é mais desanimador. No setor de energia, a
AES avalia se o "negócio pode ser
melhorado ou vendido" no Brasil,
e a Duke Energy diz que seus resultados positivos foram "afetados" por Brasil e Argentina.
Na telefonia, a AT&T Latin
America diz que está sendo forçada à "liquidação" dos negócios na
região e a Bellsouth comunica aos
acionistas que está "restringindo
investimentos na região" pelo fato de "os negócios terem sido afetados pelas recentes crises no Brasil, na Argentina e na Venezuela".
"O Brasil está indo muito devagar e existem enormes incertezas
em muitas empresas. Enquanto o
país não tiver regras claras na área
de infra-estrutura e estabilidade
macroeconômica e cambial, dificilmente vai receber novos investimentos", afirma Mark Smith, vice-presidente da Câmara de Comércio dos EUA.
Smith representa 75 empresas
americanas com investimentos
no país e esteve no Brasil na semana passada para reuniões nos ministérios de Energia e Agricultura.
"Estamos tentando ao menos
manter o que já temos no Brasil",
diz.
A principal reclamação das empresas com o país é em relação à
previsibilidade para os negócios.
Boa parte dos novos investimentos americanos no Brasil
ocorreu no início do Plano Real, a
partir de 1994, quando as empresas podiam retirar seus lucros do
país usando a paridade de quase
US$ 1 por R$ 1.
Depois da desvalorização cambial de 1999, o lucro em dólar das
americanas despencou. As empresas passaram a ter de gerar
muito mais reais para obter a
mesma quantidade de dólares.
Mais recentemente, quando o
real se desvalorizou ao ponto de
US$ 1,00 valer quase R$ 4,00, muitas companhias começaram a
produzir mais para exportar.
Agora, reclamam que, com o
dólar abaixo de R$ 3, as exportações começam a não compensar.
Terão de buscar, de novo, outra
opção. "As políticas macroeconômicas do governo Lula têm obtido crédito internacional, mas a tarefa-chave que falta agora no Brasil é restabelecer a previsibilidade", diz Felipe Illanes, diretor-adjunto de pesquisas para a América
Latina da corretora Merrill Lynch.
Illanes acredita, no entanto, que
se o Brasil conseguir "colocar a inflação para trás" e baixar os juros,
há uma chance de reconquistar
investimentos e a confiança de
empresas estrangeiras.
Erik Peterson, diretor da área de
economia global do Centro Internacional de Estudos Estratégicos,
de Washington, vê outras dificuldades. "As companhias americanas não estão investindo nem no
próprio país. O Brasil tem muito
potencial, mas também muitas
incógnitas e um histórico de altos
e baixos. Nem todas as empresas
estrangeiras tiveram uma boa experiência no país", afirma.
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