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BCs vêem economia global em "ponto crítico"
BIS alerta para ameaça da inflação e da desaceleração econômica e diz que mundo vive maior turbulência desde a Segunda Guerra
Relatório atribui situação aos próprios BCs, por não terem mantido os juros altos o suficiente no início da década para conter bolha de crédito
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Uma dupla ameaça está empurrando a economia mundial
para um "ponto crítico". A convergência de inflação e desaceleração econômica é a fonte do
perigo, alerta o BIS, entidade
que monitora o sistema financeiro internacional e é uma espécie de banco central dos bancos centrais.
Em seu relatório anual, o
Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) diz que o mundo vive a
maior turbulência financeira
desde a Segunda Guerra. "Uma
poderosa interação entre inovação no mercado financeiro,
frouxa regulamentação interna
e externa e fáceis condições
monetárias globais por um longo período nos levou à atual situação adversa", diz o relatório.
Na prática, o relatório põe
parte da culpa pela crise nos
próprios BCs, por não terem
mantido as taxas de juros altas
o suficiente no começo da década para conter o surgimento de
uma bolha de crédito.
Hoje, o aumento da inflação
no mundo é "um perigo claro e
real", afirma o BIS, notando
que a escalada dos preços preocupa principalmente em países
emergentes, como o Brasil, que
devem aumentar as taxas de juros e permitir a valorização de
suas moedas para deter o o contágio da inflação em outras regiões do planeta.
Ao mesmo tempo, a organização com sede na Suíça adverte que a economia mundial voltou a mostrar sinais de desaceleração mais acentuada e que o
risco de recessão nos EUA ainda é "significativo". E reconhece que a combinação de pressão
inflacionária com menor atividade econômica cria novamente um dilema para os bancos
centrais, divididos entre elevar
os juros para afastar o primeiro
perigo ou cortá-los para enfrentar o segundo.
Desafio
"A ameaça imposta pelo ressurgimento da inflação chega
justamente num momento em
que os riscos ao crescimento
global causados pelo acentuado
aumento nos preços do petróleo e pelo aperto nas condições
de crédito em algumas economias-chave aumentaram", disse o diretor-geral do BIS, Malcolm Knight. "Isso apresenta
aos bancos centrais um grande
desafio em política monetária."
Em sua última reunião regular, há dois meses, o BIS já manifestara preocupação com o
avanço da inflação, mas parecia
convencido de que o pior da crise econômica mundial havia ficado para trás. E indicava que a
demanda interna aquecida dos
maiores países emergentes, como China, Índia e Brasil, era
uma bênção capaz de compensar a desaceleração nos países
industrializados.
Agora, a bênção parece ter virado um perigo. "Nesses países
[emergentes], as pressões causadas pela demanda continuam
fortes", disse Knight. "Seria
apropriado elevar os juros e
permitir a valorização do câmbio para conter a inflação." Para ele, os desafios dos emergentes são "particularmente grandes", já que os preços dos alimentos consomem fatia maior
do orçamento doméstico.
Knight disse ainda que, com
o aumento de sua participação
na economia mundial, os países
emergentes também passam a
ter mais responsabilidades. "Os
dias em que o curso do progresso econômico global era ditado
por poucas economias avançadas terminaram", afirmou o gerente-geral do BIS. "O crescente peso dos países emergentes
claramente trouxe vantagens,
mas também cria responsabilidades internacionais."
Embora o BIS deixe claro que
a inflação é hoje o principal inimigo, em um de seus cenários
mais pessimistas o relatório diz
que o baixo crescimento poderá se prolongar por um período
mais longo do que se prevê.
Com os altos preços dos alimentos e do petróleo, o estouro
da bolha imobiliária e a falta de
crédito no mercado, a situação
poderia se inverter e virar deflação, uma possibilidade remota, de acordo com o BIS, mas
digna de atenção.
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