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Setor automotivo importa até barra de aço por avião
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias que compõem a
cadeia do setor automobilístico
estão dando nó em pingo d'água
para atender ao crescimento de
14,8% da produção das montadoras no primeiro semestre do ano.
Há fabricantes de autopeças, como a Bosch, importando barras
de aço por via aérea a um custo altíssimo, para fazer frente ao desabastecimento interno.
A unidade de sistemas diesel da
empresa, localizada em Curitiba,
chegou a mandar um portador à
Alemanha para trazer, numa mala, pequenos lotes de peças para
garantir a produção de um dia.
"Exportamos quase metade dos
sistemas de injeção que produzimos, e nossos clientes locais, fabricantes de caminhões e tratores,
também têm compromissos no
exterior. Não podemos deixar de
atender as duas demandas", diz
Ronaldo Reimer, vice-presidente.
Outras, de menor porte, como a
Paranoá, fabricante de mangueiras para sistemas automotivos,
tentam se defender da escassez de
borracha carregando estoques
para três meses de produção. Em
tempos normais, o estoque é para
45 dias. "Tentamos nos proteger
formando estoques desde o início
do ano, mas o custo dessa operação é alto", afirma Luiz Gustavo
Klass Mwosa, diretor da empresa.
A ginástica que os fornecedores
das montadoras vêm fazendo para garantir o abastecimento "just-in-time" das linhas de montagem
está chegando ao limite. Na sexta-feira, a fábrica de caminhões da
Ford parou a produção, devido à
falta de peças, para que seus fornecedores retomassem o fôlego.
Nem sempre, porém, a parada é
organizada. Desde março, todas
as montadoras têm sido obrigadas a interromper a produção por
uma hora, duas a três vezes por
semana, por falta de componentes, conta Mário Milani, vice-presidente do Sindipeças (sindicato
dos fabricantes de autopeças).
Como presidente da Sogefi Filtration do Brasil, fabricante italiana de filtros e suspensão, Milani
também vem tendo dificuldades
com o fornecimento das siderúrgicas locais. Por isso foi obrigado
a trocar um tipo específico de aço
por outro, para não interromper a
produção e atender os clientes.
Crise de crescimento
Da multinacional alemã ou italiana ao pequeno fabricante local
de autopeças, o objetivo é um só:
contornar a "crise de crescimento" que pegou a cadeia automotiva despreparada, após duas décadas de estagnação da economia.
Até o mês de junho, foi fabricado 1,038 milhão de veículos no
país, de acordo com a Anfavea
(associação das montadoras). A
projeção do setor é chegar a 2,050
milhões de unidades fabricadas
até o final do ano. "Se a produção
de veículos bater em 2,1 milhões,
isso vai embolar o meio-de-campo", afirma David Wong, gerente
da Booz Allen & Hamilton.
Milani diz que é muito difícil
romper a barreira das 2,1 milhões
de unidades: os fornecedores locais de autopeças não conseguiriam atender a demanda. "A indústria automobilística é o topo
de uma pirâmide que se equilibra
sobre uma base frágil", diz ele.
Abaixo dela estão os sistemistas,
empresas multinacionais que
montam partes e peças e fornecem sistemas completos às montadoras. Mas eles dependem de
cerca de 3.000 pequenos e médios
fabricantes nacionais de autopeças que os abastecem. Segundo
Milani, a maioria deles tem hoje
dificuldades financeiras, dívidas
tributárias e pouco acesso a crédito para poder fazer investimentos.
De olho no futuro, a Valeo, multinacional francesa, líder em sistemas de iluminação, mapeou os
gargalos existentes em suas nove
fábricas no Brasil e agora faz o
mesmo com seus fornecedores.
A empresa está investindo em
expansão de capacidade. Mas, até
que os investimentos estejam
prontos, ela negocia com os empregados a criação do quarto turno de trabalho para funcionar
ininterruptamente. "Estamos nos
preparando para um aumento de
até 25% na demanda, nos próximos anos", afirma Alain Keruzore, presidente da Valeo.
Colaborou Fábio Amato, da Agência Folha
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