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Bancos privados já estão prontos
para emprestar mais, diz Febraban
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Febraban, Gabriel Jorge Ferreira, diz que os
bancos privados estão prontos
para financiar o desenvolvimento
econômico, concedendo mais
crédito e financiando menos o déficit público. Mas, para isso, serão
necessárias profundas mudanças
no país. Ele diz que a legislação
atual protege o devedor e facilita o
não pagamento de dívidas, o que
encarece o custo do dinheiro na
ponta do crédito.
Já o juro básico da economia, a
Selic, só poderá cair com o recuo
da inflação e o ajuste das contas
públicas. Veja abaixo trechos da
entrevista que ele concedeu à Folha na última quinta-feira.
(SANDRA BALBI)
Folha - Que papel devem ter os
bancos privados no financiamento
do desenvolvimento econômico?
Gabriel Jorge Ferreira - Os bancos estão preparados para financiar a retomada do crescimento,
têm plenas condições de participar desse novo processo. Tenho
apenas insistido, nas conversas
com a equipe que assessora o presidente eleito, que é necessário fazer uma revisão na legislação de
forma a eliminar fatores que distorcem a qualidade do crédito e
da intermediação financeira.
Folha - Que tipo de mudanças são
essas?
Ferreira - Hoje temos um regime
jurídico que impacta a qualidade
do crédito e eleva o "spread" bancário. A dificuldade que se tem de
cobrar o principal é muito grande
em função de várias possibilidades que a legislação dá ao devedor
de questionar a exigibilidade do
crédito. O crédito imobiliário foi o
que mais sofreu com isso, pois
chegou a níveis de inadimplência
de quase 40%.
Folha - Essa inadimplência e a
contestação de dívidas por parte
dos devedores não decorrem das
altas taxas de juros que tornam o
débito impagável, em muitos casos?
Ferreira - Não há dúvida nenhuma que tem esse aspecto, sim. A
taxa de juro praticada no Brasil é
muito alta em função do ambiente macroeconômico em que nós
vivemos. Mas não me parece razoável que, por isso, o devedor
deixe de pagar o principal. Isso
acarreta uma distorção com repercussão significativa na expansão do crédito. A legislação precisaria ser aprimorada para que fiquem claros os direitos e obrigações do banco e do tomador de recursos.
Folha - E isso permitira reduzir os
juros?
Ferreira - Sem dúvida nenhuma.
Estou convencido de que se você
tiver uma legislação que discipline a concessão de crédito, ou a regulação das relações entre credor
e devedor, não deixando nenhuma dúvida de que recursos protelatórios ou que a pretexto de discutir uma garantia ou encargos o
devedor deixe de pagar o principal, nós teremos uma expansão
do crédito e uma redução do custo do dinheiro.
Folha - É possível ter crescimento
econômico com a taxa básica de juro em 22%?
Ferreira - Reduzir a taxa básica
vai depender naturalmente de decisões sobre um conjunto de medidas: a taxa alta tem o componente da inflação, do déficit público e isso atrasa a discussão das reformas tributária e da previdência. O déficit público, que leva a
essa necessidade de ter uma dívida pública alta em relação ao PIB,
só se resolve com redução de despesas ou aumento da arrecadação. Ou, então, se continua aumentando o endividamento.
Folha - Será possível ter uma redução da Selic no próximo ano? Os
últimos aumentos não geraram
uma "gordura" que dão ao novo
governo uma boa margem de manobra?
Ferreira - Sem dúvida, um dia
antes da reunião do Copom eu
apostava que ele fosse manter a
taxa inalterada. Creio que esse
reaquecimento da inflação foi
muito fruto da súbita desvalorização do real. Essa inflação, no meu
modo de ver, reproduz muito
mais a alta do dólar que uma tendência inflacionária bem caracterizada. Mas o Copom tomou a decisão baseado em informações,
certamente, muito mais completas que ele possui.
Folha - Na sua opinião, o que pode acontecer com os bancos se houver um recuo da taxa Selic? Os bancos vão perder rentabilidade?
Ferreira - Os bancos vão se ajustar, eles vão se adaptar. Quando
houve o Plano Cruzado eles se
ajustaram dando crédito. Eles estão prontos para se ajustar às novas regras. Vão diversificar sua
atuação, têm um histórico de eficiência e capacidade de reagir.
Folha - Mesmo que implique uma
redução das margens de lucro dos
bancos?
Ferreira - A questão de lucro de
bancos tem sido muito falada,
mas acho que os bancos são instituições extremamente reguladas,
têm níveis altíssimos de capitalização, têm regras internacionais a
que obedecem e constituem reservas e provisões extremamente
elevadas, pois correm riscos altos.
E operam com muita eficiência.
Mas também há exemplos de insucesso, bancos que fracassaram
e foram liquidados.
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