|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MUDANÇA DE HÁBITO
Empresas tentam ampliar o uso de cartão de débito, bancos "ajudam" ao aumentar tarifas sobre cheques
Bancos e varejo lançam cruzada anticheque
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma estratégia de vendas colocada em prática pelas redes de
varejo e pelos bancos que deve
atingir em cheio, e logo, o bolso
do consumidor. Empresas de cartão de débito, que têm os bancos
por trás, e os supermercados juntaram forças para aumentar ainda
mais o uso do cartão de débito já a
partir deste mês, segundo a Folha
apurou com executivos presentes
nas negociações. A meta é "barrar" os cheques.
A operação já começou. Clientes de bancos começaram a receber em casa, desde a semana passada, cartas das instituições que
reforçam "as facilidades do uso
do cartão de débito" e informam
sobre o aumento das tarifas para o
uso de cheques.
Um exemplo é o Banco Real,
que enviou comunicado aos
clientes. Na última semana, a instituição lançou nova tarifa para
cheques com valor abaixo de R$
25: R$ 0,25 por folha.
Na esteira da ação dos bancos,
redes varejistas, como Pão de
Açúcar, se preparam para fazer
barulho nas lojas. Serão colocados informativos na entrada dos
pontos-de-venda e anúncios nas
sacolas. O mote será "use aqui o
seu cartão". Caso o cliente tente
passar um cheque, a alternativa
do uso do cartão de débito será reforçada pelo caixa da loja.
A ação "pró-cartão" dos dois setores não acontece à toa. E foi negociada. Eles cansaram de brigar
entre eles e resolveram se juntar.
Nos últimos meses, as bandeiras (Visanet, VisaElectron, Redeshop) falavam frequentemente em
aumento nas tarifas cobradas nas
compras com o cartão de débito.
Quando o cliente usa o cartão, a
loja paga de 0,5% a 3,5% de taxa à
empresa, em cima do valor total
da compra. As companhias queriam elevar as taxas em alguns
pontos percentuais.
A conversa entre as partes não
andou e as empresas de cartão
chamaram as lojas para criar esse
"pacote anticheque" -um pouco
na linha "se não nos entendemos,
vamos nos juntar", como diz um
dos articuladores do acordo.
Nessa história, todos ganham,
menos o consumidor. A cadeia de
lojas poderá controlar a inadimplência com mais facilidade. Isso,
evidentemente, caso aqueles
clientes que, com frequência ficam insolventes, migrem da operação com cheques para o cartão.
O varejo perde milhões com o
calote. De julho a setembro, o Pão
de Açúcar, por exemplo, tinha como contas a receber com cheques
pré-datados, R$ 74,6 milhões. Como provisão (perdas) entraram
R$ 1,6 milhão (2,1% do total). Em
junho o volume de perda foi de R$
1,8 milhão, ou 2,2% do volume
vendido com cheques.
Além disso, com o apoio das lojas a essa operação -comandada
pelas instituições financeiras- as
redes ganham uma trégua dos
bancos. Isso porque, caso cresça
de forma considerável o uso do
cartão, o banco se compromete a
não falar tão cedo em aumento na
taxa cobrada das lojas.
E ganhará no maior volume de
operações com o cartão. Essas
instituições ainda têm uma outra
vantagem: conseguirão cortar
ainda mais os seus custos -ao reduzir o uso dos talões de cheques.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Forçar o uso de cartões não era objetivo de lojas Índice
|