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SHOW SINDICAL
Mesmo com uma maior proximidade com o Planalto, CUT ganhou no ano passado cerca de 10% do valor de 2000
Força ainda recebe mais repasses do governo
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CUT corre o risco de registrar
queda nos repasses de recursos da
União pelo segundo ano seguido,
desde a posse do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, um dos fundadores da Central Única dos
Trabalhadores.
No ano passado, o repasse à
central representou pouco mais
de 10% do valor transferido em
2000, sem contar com a inflação
do período, de acordo com o Siafi
(sistema de acompanhamento de
gastos federais).
A maior proximidade com o Palácio do Planalto nos 20 anos de
existência da CUT ameaça impor
à maior central sindical do país
uma segunda perda, ainda mais
significativa, embora menos provável: a divisão da sua base -fustigada pela ala mais radical da
central e por sindicatos de funcionários públicos com uma greve
nacional já convocada para a semana que vem.
Sinais de uma crise de identidade, no entanto, são refutados tanto pela direção da central como
por ex-cutistas que integram agora o governo. "É natural uma relação conflituosa entre central e o
governo, temos uma posição crítica", avalia Luiz Marinho, amigo
de Lula e presidente da CUT.
Interlocutores do presidente dizem que ele não esperava que a
central agisse como "cordeirinho", assim como não conta com
um confronto maior nem com o
esvaziamento da CUT no período
de seu mandato.
Repasses
Levantamento feito no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais) pelo
gabinete do deputado distrital
Augusto Carvalho (PPS) mostra
que a CUT vem recebendo menos
recursos para qualificação profissional e atendimento a desempregados desde 2001.
A queda mais acentuada, no entanto, coincidiu com o primeiro
ano de mandato do presidente
Lula, quando as centrais sindicais
deixaram de receber verbas do
programa federal para treinamento de mão-de-obra.
Até 2000, a CUT recebia mais
verbas da União do que a Força
Sindical, a segunda maior central
sindical do país. Desde a posse de
Lula, a Força Sindical recebe bem
mais do que o dobro da fatia destinada à CUT, para surpresa de
outros de seus ex-fundadores que
integram o primeiro escalão do
governo.
A redução dos repasses federais
para as centrais coincidiu com
uma determinação do TCU (Tribunal de Contas da União) anunciada em julho do ano passado.
O tribunal constatou irregularidades no uso das verbas públicas
destinadas ao treinamento dos
trabalhadores. Na mesma época,
o programa era reformulado: mudou de nome -de Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador, Planfor, para Plano Nacional
de Qualificação, PNQ-, e a intermediação passou a ser feita sobretudo pelos Estados.
Entre as irregularidades atribuídas à CUT, o tribunal encontrou
registros de um único trabalhador
matriculado em 25 cursos de treinamento em seis municípios diferentes. Chamava-se Adão de Jesus
Evling Naysinger.
Desde o ano passado, os repasses diretos da União às centrais ficaram limitados ao dinheiro destinado ao atendimento aos desempregados. Até 27 de abril, a fatia da CUT referente ao ano de
2004 não havia alcançado R$ 1 milhão. No mesmo período, a Força
Sindical recebeu R$ 2,6 milhões.
Esses números podem ser explicados pela diferença de estilo de
atuação das duas centrais. A CUT
sempre investiu mais na sua atuação política, enquanto a Força
apostou no chamado sindicalismo de resultados e na prestação
de serviços aos associados.
Parcerias
Foram dois os principais momentos de parceria entre CUT e o
governo desde a posse de Lula,
além da festa de 20 anos da central, em agosto passado, que contou com a presença do próprio
presidente e patrocínio de empresas estatais.
Em setembro de 2003, a CUT
"faturou" a decisão do governo de
regulamentar os empréstimos
bancários a trabalhadores com
desconto nas folhas de salários
das empresas.
No mês passado, Luiz Marinho
intermediou a proposta de melhorar os reajustes salariais oferecidos à fatia mais numerosa de
funcionários públicos.
O presidente da CUT pediu R$ 1
milhão a mais para os reajustes, o
governo ofereceu R$ 300 mil. Ambos tentam evitar a greve marcada
para o dia 10.
Desde o ano passado, Luiz Marinho propõe a criação de 1 milhão de empregos em caráter
emergencial. Na véspera do Dia
do Trabalho, Lula sinalizou que
estaria disposto a abrir frentes de
trabalho para a recuperação de
rodovias federais, pelo menos.
Também mandou estudar a correção da tabela do Imposto de
Renda.
Um outro aceno importante de
Lula é a proposta contida na reforma sindical que deverá ser submetida ao Congresso no ano que
vem e destina 10% da contribuição sindical dos trabalhadores aos
cofres das centrais. A contribuição subiria do equivalente hoje a
um dia de trabalho para 1% dos
vencimentos dos trabalhadores.
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