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LINHAS CRUZADAS
Jóia da coroa do empresário Carlos Slim, compradora da Embratel é vice-campeã de queixas no México
Telmex traz ao país estigma de "monopolista"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
A Telmex (Teléfonos de México), maior empresa de telefonia
do México, diz que entra no Brasil
confiante, mas com um pé atrás
em relação aos seus novos concorrentes brasileiros.
Na semana passada, a Telmex
venceu a batalha pela compra da
Embratel e marcou sua primeira
entrada no mercado do Brasil.
Na bagagem, a empresa traz o
histórico de vice-campeã de queixas de consumidores no México,
acusações de praticar o monopólio em seu país e algumas das tarifas mais elevadas da América Latina -o que a companhia nega.
A Telmex é uma das ""jóias da
coroa" do mais rico empresário
latino-americano, Carlos Slim, 64,
que adquiriu a ex-estatal por US$
1,76 bilhão em 1990 com a garantia de atuar livremente durante
seis anos, sem nenhum órgão regulador em seu caminho.
Forte concorrência
Agora, acusada pela Comissão
Federal de Concorrência Econômica do México de ser ""um poder
dominante" nos mercados em
que atua e de limitar a ampliação
da telefonia em seu país, a Telmex
se vê obrigada a partir para o mercado externo, onde espera ""forte
concorrência".
""Essa não é a forma como atuamos", disse à Folha Jaime Chico
Pardo, diretor-geral da Telmex,
ao comentar o acordo que as suas
três novas concorrentes no Brasil
(as operadoras de telefonia fixa
Telefônica, Brasil Telecom e Telemar) selaram para tentar derrotar
a companhia mexicana na compra da Embratel.
A ação conjunta das teles fixas
foi revelada pela Folha no domingo passado e visava realizar uma
oferta bem maior do que a da Telmex pela compra dos 52% da Embratel da americana MCI.
Outro diretor da Telmex, Arturo Elías Ayub, qualificou como
""incrível" a ação das brasileiras.
""Quando li o que saiu publicado,
pensei comigo: "É inacreditável
que alguém tenha registrado isso
por escrito"", disse, em referência
à documentação apreendida pela
polícia na sede da Telefônica.
""Esses documentos devem servir para que a Anatel tome providências. O único que pedimos é
que as regras de competição sejam claras e que isso permaneça
assim", disse Ayub.
Em seu próprio país, no entanto, a Telmex é freqüentemente
acusada de práticas monopolistas. A entrada de competidores
externos no México a partir de
1997 afetou a empresa apenas
marginalmente.
Ainda hoje, as fatias de mercado
ocupadas pela Telmex dão margem para as acusações: a empresa
tem 95% do controle da telefonia
fixa, 70% de domínio sobre o
mercado de longa distância e 65%
do setor de telefonia celular.
15 milhões de fixos
Com 100 milhões de habitantes,
o México tem só 15 milhões de linhas de telefones fixos, uma das
menores densidades do mundo.
Uma rara estratégia de, em vez
de tarifar o minuto, cobrar um
preço fixo de US$ 14 por um teto
de cem chamadas e sobretaxar as
ligações excedentes também é alvo de freqüentes críticas e de estudos de bancos que afirmam que o
México tem alguns dos maiores
preços de telefonia do mundo.
""Esses números são relativos e
podem ser enganosos", diz Ayub.
O faturamento da Telmex deverá
alcançar US$ 10 bilhões neste ano,
ampliando a fortuna estimada em
mais de US$ 13 bilhões do empresário Carlos Slim.
Investimentos
Nesse ambiente de domínio de
mercado, a Telmex tem conseguido manter um ritmo incomum de
investimentos de US$ 2 bilhões ao
ano e, mais raro ainda, atuar há 13
anos sem enxugar seu quadro de
funcionários.
""Não houve nada, nem demissões nem greves desde 1990", afirma Hernández Juárez, presidente
do Sindicato dos Telefonistas do
México, que reúne 60 mil trabalhadores, sendo 49 mil pertencentes à Telmex.
Em relação a seus consumidores, no entanto, a Telmex só perde
para a estatal de energia local no
ranking das empresas com mais
reclamações de clientes.
""O maior número de reclamações se dá por cobranças indevidas", afirma Enrique Burgos Véliz, diretor da Procuradoria Federal do Consumidor (uma espécie
de Procon mexicano).
Em 2003, a Telmex chegou a ser
multada pelo órgão em US$ 2,6
milhões por cobrar por serviços
não autorizados por seus consumidores.
No campo internacional, a Telmex também foi acusada por
companhias norte-americanas de
cobrar mais de US$ 1 bilhão em
""tarifas indevidas" para realizar
conexões de longa distância para
dentro do México.
O caso foi levado à OMC (Organização Mundial do Comércio),
que acabou dando decisão favorável às empresas dos EUA.
Em sua estréia no Brasil, a Telmex agora promete também uma
estratégia agressiva que dê músculos à Embratel perante as suas
concorrentes.
""Vamos fortalecer financeiramente a Embratel", afirma o diretor-geral, Chico Pardo, sem
adiantar cifras.
""O que posso dizer é que, na
área de telecomunicações, é preciso sanear dívidas para poder continuar o processo de atualização.
Nesse mercado, não se pode trabalhar para pagar juros", diz.
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