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Inflação em alta derruba rendimento das contas do FGTS
Somente entre janeiro e maio deste ano, diferença é de 1,26%; estudo mostra que trabalhadores tiveram perda de R$ 4,38 bi
Tendência é que diferença aumente até o final do ano e, com isso, o FGTS tenha rendimento negativo de 1,77%, calcula matemático
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O trabalhador que tem recursos depositados no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço) está perdendo dinheiro para a inflação. É que o rendimento acumulado pelo fundo
até maio já é 1,26% inferior ao
aumento dos preços. A tendência é que essa diferença aumente até o final do ano e, com isso,
o FGTS tenha rendimento negativo de 1,77%.
Os cálculos do professor José
Dutra Sobrinho, da USP (Universidade de São Paulo), levam
em conta o rendimento acumulado pelo FGTS até maio e projeções de juros que chegariam a
dezembro em 14,25%, conforme esperado pelo mercado financeiro, e inflação de 6,30%
para este ano.
"Num cenário de inflação em
alta, a tendência é de rendimento real negativo porque a
taxa de juros sobe para combater o aumento de preços, mas a
TR [Taxa Referencial, que responde por parte do rendimento
do FGTS] cresce numa proporção menor do que os juros", explica o matemático.
Quando há rendimento real
negativo, o dinheiro no FGTS
perde valor. É como se uma
parte da poupança feita pelo
trabalhador desaparecesse.
Pela lei, o governo tem que
pagar ao trabalhador o equivalente à variação da TR e juros
de 3% ao ano. A taxa referencial
é calculada com base nos CDBs
negociados pelos bancos, descontada de um redutor fixado
pelo BC (Banco Central).
Assim, quando a taxa de juros
sobe, a TR também aumenta. O
percentual seria praticamente
o mesmo dos juros se não houvesse a aplicação do redutor.
Como há a dedução, a taxa acaba ficando abaixo dos padrões
de mercado.
Com isso, o rendimento do
FGTS acaba sendo baixo. A
vantagem para o trabalhador,
embora indireta, é que a TR
também corrige operações como financiamento habitacional. Dessa forma, quem tem esses empréstimos acaba pagando menos juros.
Essa não é a primeira vez que
o FGTS rende menos que a inflação. Além dos períodos de
descontrole inflacionário da
década de 80, houve perda em
anos como 2002 e 2003, quando o rendimento do fundo ficou
respectivamente 5,91% e 1,38%
abaixo da inflação.
Em 2007, a remuneração do
FGTS praticamente empatou
com a elevação dos preços. O
rendimento foi de 4,49%, enquanto a inflação medida pelo
índice usado pelo governo como meta (o IPCA) foi de 4,46%.
O Ministério do Trabalho,
que é o responsável pela administração do FGTS, informou
que não poderia comentar o assunto porque o secretário-executivo do Conselho Curador
não estava em Brasília.
Menos R$ 4,38 bi no ano
Segundo cálculos do Instituto FGTS Fácil, ONG especializada em informações sobre o
fundo, enquanto a TR rendeu
0,3357% entre janeiro e maio
deste ano, o INPC aumentou
3,3225%.
Assim, somente nos cinco
primeiros meses deste ano os
trabalhadores deixaram de receber R$ 4,38 bilhões nas contas do FGTS, calcula o instituto.
No cálculo não estão computados os juros de 3% ao ano, que
incidem sobre mais de 98% das
contas (há outras com juros de
4%, 5% e 6% ao ano).
Para o leitor avaliar o tamanho dessa perda, uma pessoa
que tivesse R$ 10 mil de saldo
ao final de 2007 tem hoje R$
11.966. Se a correção fosse pelo
INPC, teria R$ 17.289.
Segundo Mario Avelino, presidente do instituto, a correção
do FGTS vem perdendo para o
INPC desde 2001. Nesse período, ele calcula que as perdas foram de R$ 49,77 bilhões.
Colaborou MARCOS CÉZARI ,
da Reportagem Local
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