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Brasil cedeu rápido na OMC, afirma negociador argentino
Às vésperas da visita de Lula, secretário critica atuação brasileira na Rodada Doha
Para Alfredo Chiaradía, país agiu de forma autônoma durante negociações em Genebra e não representou interesse dos demais países
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O Brasil cedeu muito rápido
às pressões dos poderosos na
Rodada Doha e agiu autonomamente, sem representar outros
países. Após o fracasso das negociações em Genebra, Brasil e
Argentina não assumem os
atritos gerados pelas divergências bilaterais, mas opiniões como a acima, expressada pelo secretário de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo
Chiaradía, principal negociador argentino na OMC, mostram que há feridas na relação,
às vésperas da visita do presidente Lula ao país.
"Quando se negocia, é preciso estar preparado para dizer
não. Se alguém entra numa negociação e não está preparado
para sair sem um acordo, implica que está pronto para concordar com as exigências dos que
têm maior força", disse Chiaradía. Ao ser indagado sobre se se
referia ao Brasil, disse apenas:
"Vocês podem deduzir". Ao
aceitar a proposta da OMC para
desbloquear as negociações, o
Brasil teria deixado de lado
aliados tradicionais, como a Argentina, que pedia mais proteção para suas indústrias.
Em entrevista à imprensa local e estrangeira, Chiaradía se
negou a usar o termo traição e
disse que, entre sócios, as dificuldades sempre se superam.
Mas assumiu que houve, sim,
"tensão" e que a Argentina já
sabia que o Brasil estava "mais
predisposto" a aceitar a proposta dos países mais ricos,
mas que não esperava que "isso
iria se cristalizar tão rápido".
"Não havia uma posição comum, mas podia se haver tentado um pouco mais."
Ele afirmou que o Mercosul
quase foi atropelado em Doha.
"É bom quase ser atropelado.
Aí, cada vez que você cruzar a
rua, vai prestar mais atenção. É
bom para que aprendamos no
futuro a ter harmonia, a negociar com uma só voz."
Visita de Lula
Dispersar as tensões de Doha
e buscar uma só voz vão ser o
desafio da visita de Lula, que
chega amanhã à Argentina e começa a sondar o vizinho sobre a
retomada de negociações do
Mercosul com outros blocos e
países. Para mostrar boa vontade, Lula chega com uma missão
de 240 empresários, representantes do BNDES e a promessa
de investimentos no país e de
ajuda para a companhia aérea
Aerolíneas Argentinas, recém-estatizada e em crise.
Os dois presidentes jantam
juntos amanhã e, na segunda,
participam da abertura de um
seminário empresarial entre os
dois países e de uma reunião
para tratar de temas bilaterais.
Para a presidente argentina,
Cristina Kirchner, não é pouco.
Após enfrentar uma crise de
quatro meses com o setor agropecuário, ela viu ser derrubado
no Senado seu projeto que previa um aumento de impostos às
exportações de grãos.
Durante o conflito, houve panelaços e bloqueios de estradas
e a popularidade da presidente
caiu para cerca de 20%, enquanto Lula foi apontado por
uma pesquisa local como o
mandatário que tem melhor
imagem entre os argentinos.
Para mostrar apoio a Cristina
Kirchner, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou de última hora que também virá ao país na segunda-feira para uma reunião trilateral entre os presidentes, ainda
não confirmada oficialmente.
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