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ARTIGO
Bush e a Conspiração Pollyanna
WILLIAM SAFIRE
DO "NEW YORK TIMES"
Uma multidão sorridente
de otimistas econômicos
que operam clandestinamente
sob o nome de Conspiração Pollyanna está ameaçando tomar o
controle da opinião pública norte-americana.
O primeiro sinal do nefasto
complô surgiu há duas semanas,
quando o Serviço Orçamentário
do Congresso, uma organização
sem vínculos partidários, foi forçado a reduzir suas projeções
sempre crescentes de déficits.
Cortou a estimativa de déficit de
US$ 401 bilhões no ano fiscal passado, encerrado em 30 de setembro, para US$ 374 bilhões. O Serviço Orçamentário da Casa Branca concordou, reduzindo sua estimativa de déficit em 2003 de US$
455 bilhões para US$ 380 bilhões.
Horrorizada, a Esquerda Schopenhauer encontrou desculpas
para que o déficit não tivesse continuado em alta: as empresas talvez tenham pago seus impostos
mais cedo, os gastos federais estão
sendo empurrados para o ano
que vem, e não se esqueçam das
despesas com o Iraque em 2004.
Mas o fato ignorado pelos pessimistas de plantão é que a tendência do déficit é de desaceleração.
Anos atrás, a Esquerda Schopenhauer apareceu com o notório
"índice da miséria", a taxa de inflação somada à taxa de desemprego. Ele ficaria em 8,4% no momento, o que não é bom, mas
também não é tão ruim. Não se
trata exatamente de uma forma
de medir a economia, mas de um
indicador do impacto político que
o estado da economia exerce.
Para dar aos animados adeptos
da Conspiração Pollyanna um índice que pudessem mencionar,
inventei o "índice êxtase". É a soma do nível trimestral de crescimento econômico e do ganho trimestral na produtividade. O índice êxtase está voando acima dos
12%. Um pico de prosperidade
como esse é impossível de manter
por muito tempo, como até mesmo Eleanor Hodgman Porter, autora do livro infantil de 1913 sobre
a menina feliz que jogava o "jogo
do contente", teria de admitir.
Mas e o mantra da turma Schopenhauer, de que "Bush causou a
perda de 3 milhões de empregos,
o maior recuo desde que Hoover
era presidente"? Seriam os bons
tempos que estão por chegar uma
"recuperação sem emprego",
com as empresas enxugando ainda mais suas estruturas, reduzindo trabalhadores e terceirizando
sua demanda de mão-de-obra futura para a China e a Índia?
Nós, conspiradores (admito ser
membro da turma dos otimistas),
bem como os caçadores de Saddam, esperaremos até o ano que
vem. Quando 2004 chegar, com o
crescimento econômico se firmando em saudáveis 4%, a atual
taxa de desemprego de 6,1% deve
começar a cair, sustentada pelas
baixas taxas de juros, enquanto os
ganhos de produtividade compensam a inflação. E é a tendência
de queda ou alta, mais que o nível
efetivo do desemprego, que conquista manchetes e afeta eleições.
É por isso que a maior das Pollyannas em nossa conspiração pôde dizer, em entrevista coletiva a
um grupo de jornalistas na semana passada, que "os EUA estão começando a criar empregos, as
vendas no varejo estão subindo, a
construção de casas começa a disparar, as Bolsas estão avançando,
os lucros estão em alta e a produção industrial está crescendo".
Bush propõe gastar mais em defesa e na assistência médica federal, resistindo às tentativas democratas de elevar impostos. Enquanto a recuperação sem inflação se mantiver, o Fed poderá
continuar seu estímulo monetário. A arrecadação tributária adicional gerada pela alta nos lucros
deve reduzir o déficit e criar um
orçamento balanceado.
William Safire é analista político e
colunista do "New York Times".
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