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ANÁLISE
Recuperação americana chegou, mas talvez não dure
DO "FINANCIAL TIMES"
A economia dos EUA avançou com estrondo no terceiro trimestre deste ano, com o
maior índice de crescimento trimestral dos últimos 20 anos.
Isso sem dúvida é uma boa notícia. O que Kenneth Rogoff, até recentemente economista-chefe do
Fundo Monetário Internacional,
chamou de "a melhor recuperação que o dinheiro pode comprar" vem a ser uma recuperação
bastante boa. A única pergunta é
se ela vai durar.
Não apenas a economia se expandiu a um índice anualizado de
7,2%, como a composição da demanda também foi altamente favorável. O consumo pessoal cresceu a um índice de 6,6%, enquanto o consumo de bens duráveis
aumentou 26,9%.
O investimento doméstico privado bruto cresceu a um índice de
9,3%, com o investimento fixo a
14%. O principal, talvez, é que as
exportações cresceram a um índice de 9,3%, mas as importações
aumentaram só 0,1%. Sessenta e
cinco por cento do crescimento
em demanda real foi gerado pelo
consumo pessoal, 19% pelo investimento privado bruto, 12% por
exportações líquidas e apenas 4%
por gastos do governo.
Essas estatísticas ainda poderão
ser amplamente revisadas, mas
sugerem um vigor tranquilizador
do setor privado. Então, estariam
errados os "fofoqueiros da negatividade", como disse certa vez o
ex-vice-presidente Spiro Agnew?
Dificilmente. Afinal, esse é um
país cujo déficit público, segundo
o relatório Perspectiva Econômica Mundial do FMI, vai sofrer
uma deterioração, equivalente a
7,2% do PIB (Produto Interno
Bruto) entre 2000 e 2003. Oitenta
por cento dessa alteração é estrutural, e não cíclica. Os EUA têm
taxas de juros de curto prazo de
apenas 1%, e uma curva de rendimento em alta acentuada.
Seria tolo supor que o país esteja
pronto para reviver a pujante década de 90. Enquanto o lado da
oferta, sobretudo o desempenho
da produtividade, é positivo, o lado da demanda não é.
Um motivo para cautela é que a
situação fiscal terá de ser apertada, e não afrouxada, nos próximos anos. Enquanto a política
monetária poderá continuar
agressiva por algum tempo, o espaço para um maior abrandamento também é limitado.
Além disso, os índices de poupança doméstica e nacional são
ambos extremamente baixos: o
FMI estima a poupança nacional
bruta este ano em apenas 13,6%
do PIB. A exigência de empréstimos nacionais resultante está em
cerca de 5% do PIB.
Os EUA dependeram fortemente de compradores oficiais estrangeiros de títulos em dólares para
financiar essa enorme lacuna externa. Outro período em que a demanda interna americana crescesse mais depressa que a produção tornaria ainda mais extrema
essa dependência das finanças estrangeiras.
Uma recuperação mundial conduzida pelo crescimento alimentado por dívidas dos EUA é muito
melhor que nada. Mas como o
crescimento americano depende
tanto das finanças estrangeiras,
enquanto o crescimento estrangeiro depende por sua vez pesadamente dos empréstimos americanos, a recuperação continuará
vulnerável.
As autoridades norte-americanas certamente fizeram sua parte.
Agora é a vez do resto do mundo.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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