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Sem atuação do governo, Varig não teria sobrevivido, diz ex-dirigente da Infraero
EM SÃO PAULO
O ex-presidente da Infraero
José Carlos Pereira afirma que
as irregularidades cometidas
pela Varig no pagamento de tarifas aeroportuárias eram de tal
ordem durante o auge da crise
da empresa que ele teve de recorrer à Polícia Federal para
cobrar o repasse de taxas de
embarque para a estatal.
"Mandei carta para a PF acusando a Varig de apropriação
indébita. Isso é crime e popularmente chamamos isso de
roubo. Entrei com três ações
judiciais, mas havia sempre
aquela orientação do governo:
salvem a Varig", disse.
A tarifa da estatal responsável pela administração dos aeroportos é cobrada com o preço
do bilhete, e as companhias depois repassam a quantia para a
Infraero.
De acordo com Pereira, o
quadro à época era caótico. "A
Varig não pagava as tarifas de
quarta e quinta-feira. Chegava
na sexta, eu dizia que ela teria
de fazer pagamento à vista no
fim de semana e na segunda eu
pediria a falência. Aí eles pagavam na segunda-feira", contou.
O ex-presidente da Infraero
estima que a dívida da Varig
com a estatal era da ordem de
R$ 700 milhões em 2006.
Para o ex-presidente da Infraero, caso não houvesse a
orientação do governo no sentido de salvar a Varig, a companhia aérea não teria resistido
muito tempo.
"Ela não teria durado isso tudo, a dívida era grande demais.
O governo dizia que era preciso
salvar a companhia. A BR jogava muito mais duro do que nós.
Era uma questão de poder. Se a
Infraero impede um avião de
pousar, ele cai. O poder de pressão da Petrobras com o fornecimento de combustível era muito maior", afirmou.
Pressão
Em reportagem publicada
pela Folha no dia 25 de junho
de 2006, Pereira classificou como "impatriótica" a decisão da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) que permitiu a
compra da VarigLog pela Volo.
Na ocasião, afirmou que dava
margem à competição predatória contra as companhias aéreas nacionais e que era um risco para a aviação civil permitir
a entrada de capital estrangeiro daquela forma, em referência à participação do fundo de
investimento americano Matlin Patterson.
"Precisava ver a esculhambação que levei da Dilma [Rousseff] por ter chamado de impatriótico. Ela me telefonou e disse que eu estava me metendo
onde não devia, que não sabia
qual era o meu lugar e que estava atrapalhando o caso", disse.
Pereira disse que nunca recebeu uma ordem específica da
Casa Civil para aprovar o plano
de recuperação, mas que recebeu a instrução de que era preciso salvar a Varig, dentro da
lei, e que se concentrou em
preservar o recebimento das
dívidas da empresa. Ele tinha
dúvidas em relação à viabilidade da recuperação dos créditos
da estatal com a aprovação do
plano de recuperação judicial
da companhia. "O ambiente da
recuperação judicial me deixava apreensivo. Tinha receio de
alguma coisa estar errada e
prejudicar a Infraero. Não tenho capacidade técnica para
dizer se os meios utilizados para a recuperação da Varig eram
certos ou errados, mas tenho
certeza de que não foi o melhor
caminho", disse.
(JL)
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