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repercussão
Faltou ousadia para o governo, avalia o setor
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Faltou ousadia ao Plano
Agrícola e Pecuário anunciado ontem pelo governo para
a safra 2008/9. A avaliação é
de Márcio Lopes de Freitas,
presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Freitas reconhece,
no entanto, avanços em medidas voltadas para o próximo plantio de verão, que se
inicia em alguns meses.
Mas afirma que o governo
"ficou devendo" em pelo menos três pontos cruciais: o
aprimoramento do seguro
rural -considerando faixas
de produtividade por agricultor-, a autorização da navegação de cabotagem para
embarcações de bandeira estrangeira -o que pode ajudar a reduzir custos no transporte de produtos e insumos
entre portos dentro do país-
e o lançamento de novas linhas de crédito para cooperativas agropecuárias.
Segundo Freitas, alcançar
uma safra de 150 milhões de
toneladas de grãos, 5% mais
que a produção atual, será
uma conseqüência natural
da valorização dos preços das
commodities agrícolas no
mercado internacional.
Cesário Ramalho, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), concorda que
pouco se avançou nas chamadas "questões estruturantes". Mas apontou como
ponto favorável a promessa
de que 70% dos recursos reservados para a agricultura
empresarial -estimados em
R$ 45,5 bilhões- sejam oferecidos a juros fixos de 6,75%
ao ano. A taxa básica Selic está em 12,25%.
Carlos Sperotto, diretor da
Comissão Nacional de Crédito da CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do
Brasil), condenou os 6,75%.
"Os Estados Unidos têm juros de 2% para qualquer atividade. E a agricultura familiar no Brasil vai ter acesso a crédito com juros de 2%, o
que não entendo porque não
há diferença de insumos,
qualidade de produtos e custos em relação à agricultura
empresarial", afirmou.
O governo promete, ao todo, R$ 78 bilhões -R$ 65 bilhões para o agronegócio e
R$ 13 bilhões para as pequenas propriedades- para o
crédito ao campo no ano
agrícola 2008/9. As lideranças do setor haviam solicitado R$ 110 bilhões.
Para Márcio de Freitas, da
OCB, o volume maior se justifica pelo aumento no custo
de produção pela alta de insumos, entre eles os fertilizantes, inflacionados pelo
preço maior do petróleo.
Carlos Sperotto, da CNA,
espera que o governo negocie a elevação dos recursos
nos próximos meses. Para
Sperotto, o importante agora
é que o plano realmente saia
do papel. "No ano passado,
sobraram R$ 5 bilhões de
crédito rural porque os produtores não tiveram acesso.
Anúncio é bom, pomposo,
junta muita gente, tem discurso e aplauso, mas é preciso efetivar na prática", disse.
No Congresso
Na avaliação do presidente
da Comissão de Agricultura
da Câmara, deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), o governo perdeu a chance de
elevar a produção em um
bom momento de preços no
mercado internacional.
"O Brasil é o país que pode
responder mais rapidamente
a essa crise dos alimentos,
mas o passo do governo é
muito tímido. Boa parte dos
produtores vai ter dificuldade, estamos perdendo um
delta de oportunidade fantástico", afirmou Lorenzoni.
Integrante da comissão, o
deputado Adão Preto (PT-RS) também criticou o plano.
"O governo está beneficiando os empresários em detrimento da agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos que o brasileiro consome", afirmou, ressaltando
que o governo atendeu ao
lobby do agronegócio.
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