São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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repercussão

Faltou ousadia para o governo, avalia o setor

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Faltou ousadia ao Plano Agrícola e Pecuário anunciado ontem pelo governo para a safra 2008/9. A avaliação é de Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Freitas reconhece, no entanto, avanços em medidas voltadas para o próximo plantio de verão, que se inicia em alguns meses.
Mas afirma que o governo "ficou devendo" em pelo menos três pontos cruciais: o aprimoramento do seguro rural -considerando faixas de produtividade por agricultor-, a autorização da navegação de cabotagem para embarcações de bandeira estrangeira -o que pode ajudar a reduzir custos no transporte de produtos e insumos entre portos dentro do país- e o lançamento de novas linhas de crédito para cooperativas agropecuárias.
Segundo Freitas, alcançar uma safra de 150 milhões de toneladas de grãos, 5% mais que a produção atual, será uma conseqüência natural da valorização dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional.
Cesário Ramalho, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), concorda que pouco se avançou nas chamadas "questões estruturantes". Mas apontou como ponto favorável a promessa de que 70% dos recursos reservados para a agricultura empresarial -estimados em R$ 45,5 bilhões- sejam oferecidos a juros fixos de 6,75% ao ano. A taxa básica Selic está em 12,25%.
Carlos Sperotto, diretor da Comissão Nacional de Crédito da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), condenou os 6,75%. "Os Estados Unidos têm juros de 2% para qualquer atividade. E a agricultura familiar no Brasil vai ter acesso a crédito com juros de 2%, o que não entendo porque não há diferença de insumos, qualidade de produtos e custos em relação à agricultura empresarial", afirmou.
O governo promete, ao todo, R$ 78 bilhões -R$ 65 bilhões para o agronegócio e R$ 13 bilhões para as pequenas propriedades- para o crédito ao campo no ano agrícola 2008/9. As lideranças do setor haviam solicitado R$ 110 bilhões.
Para Márcio de Freitas, da OCB, o volume maior se justifica pelo aumento no custo de produção pela alta de insumos, entre eles os fertilizantes, inflacionados pelo preço maior do petróleo.
Carlos Sperotto, da CNA, espera que o governo negocie a elevação dos recursos nos próximos meses. Para Sperotto, o importante agora é que o plano realmente saia do papel. "No ano passado, sobraram R$ 5 bilhões de crédito rural porque os produtores não tiveram acesso. Anúncio é bom, pomposo, junta muita gente, tem discurso e aplauso, mas é preciso efetivar na prática", disse.

No Congresso
Na avaliação do presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o governo perdeu a chance de elevar a produção em um bom momento de preços no mercado internacional.
"O Brasil é o país que pode responder mais rapidamente a essa crise dos alimentos, mas o passo do governo é muito tímido. Boa parte dos produtores vai ter dificuldade, estamos perdendo um delta de oportunidade fantástico", afirmou Lorenzoni.
Integrante da comissão, o deputado Adão Preto (PT-RS) também criticou o plano. "O governo está beneficiando os empresários em detrimento da agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos que o brasileiro consome", afirmou, ressaltando que o governo atendeu ao lobby do agronegócio.


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