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A FAVOR/POLÍTICA INDUSTRIAL
Brasil não se voltou para a exportação
JULIO GOMES DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nenhum dos chamados emergentes que hoje despontam como
economias de alto crescimento
deixou de adotar a tão criticada
política industrial que o Brasil
praticou no passado mediante a
substituição de importações.
O que eles fizeram não foi uma
mudança radical dessa política,
orientando-a para a exportação.
Isso ocorreu entre a segunda metade dos anos 70 e início dos 80,
enquanto o Brasil permaneceu
paralisado desde o início da década de 1980, diante de uma aguda
instabilidade inflacionária e das
políticas de câmbio e juros do período mais recente.
A orientação "para fora" das
políticas industriais adotadas pela
maioria dos países visou assegurar que os esforços das políticas
iriam perdurar e evoluir sem dependência do apoio oficial devido
à competição externa.
Não há casos de êxito de política
de desenvolvimento sem um forte
impulso na educação, como muitos economistas vêm assinalando
corretamente. Mas o que nem
sempre se destaca são as condições relativas à taxa de câmbio e à
taxa de juros. Não há a mínima
possibilidade de sucesso de uma
política industrial em promover o
desenvolvimento se a taxa de
câmbio não é claramente "competitiva" e as taxas reais de juros
dos empréstimos não são muito
baixas. Um estudo que o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) está concluindo mostra que essas duas
condições acompanharam políticas de desenvolvimento em países
hoje desenvolvidos e em países
emergentes, como Coréia, Malásia, Irlanda, China, Índia e Chile.
No Brasil, se continuarmos presos
ao dogma de que "o câmbio é flexível" e não acharmos saída para
reduzir drasticamente as taxas
reais de juros, qualquer política
industrial será limitada.
Vincular sempre que possível a
programas de exportação as ações
de uma política industrial deve
ser uma orientação geral para
uma política industrial no Brasil e
atenderia ao objetivo de consolidar o ajuste externo do país. Isso
não significa fechar a economia,
mas estreitar, pela via das exportações (que demandam importações), seus laços com o exterior.
A política industrial não deve
abrir mão de ser ativa, incluindo
políticas setoriais, incentivos de
financiamento e fiscais e subvenções para a inovação e o desenvolvimento tecnológico. É assim que
ela é executada em outros países.
Quem duvida é só verificar se,
além dos esforços gigantescos de
educação, o êxito da produção e
exportação de software na Índia
não contou com incentivos fiscais; se o sucesso da Irlanda e de
Israel em desenvolver novas tecnologias dispensou o apoio de
uma política explícita; ou se Malásia, Tailândia, Costa Rica, China e
muitos outros emergentes não
criaram condições especiais para
atração de investimentos estrangeiro para setores selecionados
voltados à exportação.
A indústria brasileira tem porte
e é diversificada o bastante para
justificar dois objetivos principais: por meio do incentivo ao investimento e à inovação, ampliar
a produção e agregar valor nos
segmentos industriais com base
em recursos naturais; atrair investimentos, incluindo os nacionais,
e a indução ao investimento direto estrangeiro, para os segmentos
tecnológicos de ponta.
Julio Gomes de Almeida, economista,
é diretor-executivo do Iedi.
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