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CONTRA/POLÍTICA INDUSTRIAL
Precisamos mesmo eleger setores?
TOMÁS MÁLAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A política monetária funcionou
em todos os países em que foi
aplicada coerentemente. No Brasil, para acabar com a inflação, as
taxas de juros reais tiveram de ser
elevadas em mais de quatro pontos percentuais acima da média
do período de câmbio flutuante
(10% ao ano). Felizmente, estamos chegando à fase final desse
difícil período. As taxas de juros
reais até o final do ano estarão
próximas de 10% e a repressão financeira será menor, a redução
dos compulsórios certamente será bem-vinda, reduzindo o
"spread" bancário. Será que isso é
suficiente para o Brasil crescer?
Alguns economistas são propensos a pedir a ação do Estado,
seja por meio de financiamento,
de incentivos fiscais ou de investimento público direto para fomentar o crescimento. A primeira
política industrial que o Brasil
precisa é melhorar os serviços públicos. Uma administração da
Justiça e da segurança mais eficiente melhoraria muito o ambiente para o investimento privado. Respeitar contratos é básico
para ter uma economia sólida.
A segunda política é tentar dar
igualdade de oportunidade a todos, com uma boa política de
educação e saúde. Finalmente,
pesquisa e tecnologia são áreas
onde a atividade privada tende a
ser predatória -quem inova dificilmente tende a usufruir de todos
os ganhos decorrentes de sua
criatividade, pois rapidamente é
imitado. A menos que os acordos
de patentes e direitos de propriedade sejam respeitados, o resultado é pouco investimento.
Sei que muitos devem considerar isso muito pouco, muito ingênuo e sempre se encontrarão
exemplos nada claros de que tal
subsídio ou parceria entre o Estado e a empresa privada levou ao
desenvolvimento miraculoso da
Coréia, da China ou de algum outro tigre. No entanto, pesquisas
mais sérias levantam muitas dúvidas sobre o sucesso dessas experiências mistas Estado/ mercado.
Fala-se muito do protecionismo
europeu ou americano sem perceber que esses são luxos que eles
têm como pagar. Nós não temos.
Não faz muito tempo, ouvi uma
palestra de um economista propondo escolher os setores nos
quais temos déficit comercial e estruturar uma política industrial
dedicada a eles. Não consigo pensar em uma maneira pior. Alguém me disse na ocasião, "desta
maneira vão querer esfriar as nossas cálidas praias para podermos
exportar salmão". O comentário
irônico apontava que dessa maneira estaríamos indo contra uma
força natural do mercado que são
as vantagens comparativas.
Pense em empréstimos subsidiados. Isto é, em geral, feitos com
taxas sobre a atividade econômica
da qual vivem milhões de brasileiros, o que equivale a encarecer a
produção em troca de um retorno
incerto. Por que prejudicar atividades que nasceram do julgamento de milhares de empresários e trabalhadores para dar condições especiais a um setor que
julgamos "chic" ou "moderno"?
Temos que discutir a sério o que
fazer com os escassos recursos
públicos. Da sua utilização eficiente dependerá nossa direção:
ou nos convertemos em uma economia próspera ou continuamos
com a performance medíocre dos
últimos 25 anos.
Tomás Málaga é economista-chefe
do Banco Itaú.
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