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PÓS-APAGÃO
No setor industrial, autogeração aumentou 17%; termelétricas são as mais usadas, com quase 80% do total
Energia "cara" faz indústria investir em geração própria
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após a crise do racionamento,
aumentou o número de indústrias e estabelecimentos comerciais que optam por gerar a própria energia que consomem. A
autogeração foi a fórmula encontrada para se proteger de altas de
tarifa e de eventuais novas restrições ao consumo, que possam
afetar a produção.
Entre 2000 e 2002, durante a crise elétrica, o consumo de energia
pela indústria cresceu apenas
1,27%. No mesmo período, a autogeração aumentou 17,29%. Em
2001, durante o racionamento, o
consumo de energia pela indústria caiu 5%, em relação ao ano
anterior, enquanto a autogeração
aumentou 8,7%.
Para a indústria e o comércio, a
autogeração é uma forma de proteção contra novas restrições ao
consumo de energia e, principalmente, contra a alta tarifária, que
encarece os custos e causa perda
de competitividade dos produtos.
Não há risco a médio prazo de
racionamento, mas neste ano o
governo iniciou um processo de
redução dos subsídios na tarifa de
energia da indústria. Até 2006, esses subsídios serão retirados, o
que significará aumentos até
41,12% maiores do que os que
aconteceriam normalmente para
os consumidores industriais e comerciais. Produzindo sua própria
energia, a indústria e o comércio
reduzem os efeitos, nos custos, do
fim dos subsídios.
Comércio
Setores que usam a energia como fonte principal do processo
produtivo investem tradicionalmente em autogeração. São eles
os setores ligados à manufatura
de ferro e alumínio, indústria química e de papel e celulose.
No entanto, devido à crise, setores que não investiam na geração
da própria energia passaram a fazer essa opção. É o caso do comércio. Até 1998, não havia autogeração nesse setor. Entre 1998 e 1999,
o comércio gerou aproximadamente 40 GWh em energia própria. Entre 2000 e 2002, período
da crise do racionamento, a autogeração saltou para 142 GWh, um
aumento de 372%.
De acordo com Pio Gavazzi, diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), a autogeração de energia é
uma boa opção quando a indústria ou o comércio têm como usar
o calor gerado no processo produtivo. "É o caso dos shoppings
ou hotéis, que usam o calor no sistema de ar condicionado."
As indústrias e o comércio podem virar autoprodutores de
energia de duas formas: construindo uma pequena usina ou
gerador de energia próximo à sua
planta industrial ou local de consumo; ou participando de projetos de construção de usinas.
Nessa segunda forma, geralmente usada por grandes consumidores de energia, a indústria
entra como sócia no consórcio
que está construindo uma usina.
Como investe dinheiro na construção da usina, depois que começa a geração de energia, passa a ter
direito de receber uma parte da
energia gerada pela nova usina.
A autogeração de energia geralmente é feita por meio de usinas
termelétricas. Dos 29.335 GWh
produzidos atualmente em autogeração, 23.074 GWh (78,56%)
são de usinas termelétricas.
Perdas
Quando indústrias ou comércio
optam por gerar sua própria energia, deixam de comprar de distribuidoras, o que pode agravar a
crise das elétricas. Isso tem acontecido principalmente com as
grandes distribuidoras da região
Sudeste.
Luiz Fernando Rolla, diretor de
relação com investidores da Cemig (Companhia Energética de
Minas Gerais), admite que parte
dos consumidores da distribuidora migrou para autogeração, mas
afirma que a energia que deixou
de ser vendida para eles já foi direcionada para outros clientes.
Segundo ele, a principal vantagem da autogeração não é um seguro contra um eventual novo racionamento, mas as vantagens
econômicas. "O consumidor recebe a energia e deixa de pagar o
imposto que incidiria na compra", explica.
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