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Após abertura de capital, construtoras têm dificuldade
Especialistas esperam aquisições, desaceleração e consolidação forte do setor
Para analistas, construtoras
usaram dinheiro captado no
mercado para compra de
terrenos e não previram
enxugamento do crédito
AGNALDO BRITO
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após a febre das aberturas de
capital, as construtoras brasileiras começam a atravessar
um forte movimento de consolidação. Aquisições, desaceleração no ritmo de lançamentos,
parcerias variadas e até mesmo
um ou outro fechamento de
empresas são esperados para os
próximos meses.
Segundo analistas, o setor foi
vitima do mau planejamento
econômico, feito com recursos
obtidos na emissão de ações, e
de coincidência negativa decorrente do aumento da restrição
de crédito corporativo.
Para os analistas, as construtoras -em sua maioria empresas familiares e desacostumadas ao mercado de ações-
queimaram boa parte do capital tomado dos investidores no
mercado financeiro na compra
de terrenos com preços caros.
Os analistas consideram a aquisição de terrenos um importante indicador para o ritmo de
lançamentos, mas a estratégia
comprometeu a capacidade futura de financiamento de novos
projetos para muitas empresas.
"Quando as construtoras foram ao mercado tomar capital
para financiar as novas unidades, toparam com uma oferta
de crédito mais cara e restrita.
A conta não fechou", diz Alexandre Navarro, sócio do escritório Navarro e Marzagão Advogados e especialista em mercado imobiliário e de capitais.
Com o crédito mais difícil e
mais caro, reviram para baixo
suas expectativas. Entre elas
estão InPar, Abyara e Eztec.
"Temos um modelo de trabalho
conservador e preferimos manter o caixa líquido para atravessar momentos como esse, de
projeção menor de dinheiro
disponível no mercado", diz
Antônio Fugazza, diretor financeiro da Eztec. "Temíamos
que a crescente inflação pudesse prejudicar vendas futuras."
A Eztec e a Klabin Segall fecharam com bancos acordos
que garantem os fundos para
levar à frente as obras por alguns anos.
Cobrança do mercado
O mercado de capitais puniu
as empresas, mesmo com o fato
de o crescimento do setor ter
sido vigoroso. Dados da consultoria Economática mostram
que a receita das construtoras
negociadas na Bovespa alcançou R$ 4,411 bilhões no primeiro semestre, crescimento de
68% na comparação com o
mesmo período de 2007.
O problema é que, para crescer, as empresas endividaram-se além da conta. No primeiro
semestre, o endividamento aumentou quase 120% em relação
ao mesmo período do 2007.
Com isso, os balanços ficaram menos atrativos, e as ações
perderam valor. Foi o que ocorreu com a Construtora Tenda,
cujos papéis caíram 65% em
agosto. Nesta semana, a empresa foi incorporada pela Gafisa.
Segundo Eduardo Cortez,
analista da Gradual Corretora,
a queda das ações atrapalha a
capitalização das empresas. A
solução, diz, é redimensionar o
plano de lançamentos ou, no
caso das menores, a venda.
As construtoras também podem usar os estoques de terreno ou aceitar parcerias em novos empreendimentos. "Claro
que nesse caso a empresa vai
crescer menos do que o acionistas gostaria, mas é uma questão
de sobrevivência", diz Cortez.
Para Rodrigo Bicalho, sócio
da Bicalho e Mollica Advogados, o risco de fechamento de
empresas é pequeno, embora
exista. "Vivemos um momento
de ajuste, e é bom que isso ocorra agora, enquanto as empresas
ainda não possuem muitos projetos lançados, do que lá na
frente, quando o risco é não entregar o produto", diz.
Caso algum empreendimento em construção seja interrompido devido a dificuldades
da empresa, a forte demanda
do mercado fará com que outra
construtora retome o empreendimento, diz Bicalho.
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