São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Após abertura de capital, construtoras têm dificuldade

Especialistas esperam aquisições, desaceleração e consolidação forte do setor

Para analistas, construtoras usaram dinheiro captado no mercado para compra de terrenos e não previram enxugamento do crédito

AGNALDO BRITO
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após a febre das aberturas de capital, as construtoras brasileiras começam a atravessar um forte movimento de consolidação. Aquisições, desaceleração no ritmo de lançamentos, parcerias variadas e até mesmo um ou outro fechamento de empresas são esperados para os próximos meses.
Segundo analistas, o setor foi vitima do mau planejamento econômico, feito com recursos obtidos na emissão de ações, e de coincidência negativa decorrente do aumento da restrição de crédito corporativo.
Para os analistas, as construtoras -em sua maioria empresas familiares e desacostumadas ao mercado de ações- queimaram boa parte do capital tomado dos investidores no mercado financeiro na compra de terrenos com preços caros. Os analistas consideram a aquisição de terrenos um importante indicador para o ritmo de lançamentos, mas a estratégia comprometeu a capacidade futura de financiamento de novos projetos para muitas empresas.
"Quando as construtoras foram ao mercado tomar capital para financiar as novas unidades, toparam com uma oferta de crédito mais cara e restrita. A conta não fechou", diz Alexandre Navarro, sócio do escritório Navarro e Marzagão Advogados e especialista em mercado imobiliário e de capitais.
Com o crédito mais difícil e mais caro, reviram para baixo suas expectativas. Entre elas estão InPar, Abyara e Eztec. "Temos um modelo de trabalho conservador e preferimos manter o caixa líquido para atravessar momentos como esse, de projeção menor de dinheiro disponível no mercado", diz Antônio Fugazza, diretor financeiro da Eztec. "Temíamos que a crescente inflação pudesse prejudicar vendas futuras."
A Eztec e a Klabin Segall fecharam com bancos acordos que garantem os fundos para levar à frente as obras por alguns anos.

Cobrança do mercado
O mercado de capitais puniu as empresas, mesmo com o fato de o crescimento do setor ter sido vigoroso. Dados da consultoria Economática mostram que a receita das construtoras negociadas na Bovespa alcançou R$ 4,411 bilhões no primeiro semestre, crescimento de 68% na comparação com o mesmo período de 2007.
O problema é que, para crescer, as empresas endividaram-se além da conta. No primeiro semestre, o endividamento aumentou quase 120% em relação ao mesmo período do 2007.
Com isso, os balanços ficaram menos atrativos, e as ações perderam valor. Foi o que ocorreu com a Construtora Tenda, cujos papéis caíram 65% em agosto. Nesta semana, a empresa foi incorporada pela Gafisa.
Segundo Eduardo Cortez, analista da Gradual Corretora, a queda das ações atrapalha a capitalização das empresas. A solução, diz, é redimensionar o plano de lançamentos ou, no caso das menores, a venda.
As construtoras também podem usar os estoques de terreno ou aceitar parcerias em novos empreendimentos. "Claro que nesse caso a empresa vai crescer menos do que o acionistas gostaria, mas é uma questão de sobrevivência", diz Cortez.
Para Rodrigo Bicalho, sócio da Bicalho e Mollica Advogados, o risco de fechamento de empresas é pequeno, embora exista. "Vivemos um momento de ajuste, e é bom que isso ocorra agora, enquanto as empresas ainda não possuem muitos projetos lançados, do que lá na frente, quando o risco é não entregar o produto", diz.
Caso algum empreendimento em construção seja interrompido devido a dificuldades da empresa, a forte demanda do mercado fará com que outra construtora retome o empreendimento, diz Bicalho.


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