São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MODA

Dono de uma grife que só cresce, estilista completa 70 anos e se diz preocupado em desenvolver autonomia de sua equipe

Sucessão no império Armani gera incerteza

JO JOHNSON
DO "FINANCIAL TIMES"

Vender seu Volkswagen em 1975 foi o melhor negócio que Giorgio Armani já fez. Trinta anos mais tarde, o negócio que ele montou com o dinheiro se tornou uma das marcas mais conhecidas e valiosas do mundo. Como presidente-executivo e do conselho, além de único acionista, de uma marca de estilo de vida avaliada em três bilhões pelos analistas, Armani, o rei inconteste da noite do Oscar, provavelmente é o estilista de maior sucesso na história européia do pós-guerra.
Mas Armani, que completou 70 anos em julho, enfrenta um número crescente de céticos. Mesmo que Anna Wintour, editora da "Vogue" americana, o tenha descrito como "perenemente relevante", outros são menos caridosos. Em particular, dizem que Armani perdeu seu lado vanguardista, que não está renovando o apelo de sua marca numa nova geração de consumidores jovens e exigentes e que precisa urgentemente esclarecer os planos sobre o futuro de seu império de moda.
Armani admite que ele precisa reassegurar aos poderosos compradores das lojas de departamentos, a seus fornecedores e funcionários que a vida vai prosseguir muito mesmo depois que ele decida se aposentar.
Nigel Nicholson, professor de comportamento organizacional na London Business School, diz ser comum que empresas familiares retardem decisões de planejamento de sucessão até que seja tarde demais, ou que os proprietários se acreditem imortais. "Às vezes, o líder não quer pensar no futuro. Às vezes, a família simplesmente não sabe o que vai fazer e está à espera de inspiração."
Armani diz que sua principal preocupação agora é desenvolver a autonomia e as idéias de sua equipe executiva, cujas principais figuras foram contratadas em casas de moda rivais, tais como Jil Sander, Calvin Klein e Ferragamo. Ele duvida que a Gucci tenha tomado a decisão correta ao recrutar um executivo da Unilever, Robert Polet, que nunca trabalhou no setor, para substituir Domenico de Sole na presidência da organização. "São precisos pelo menos três anos para aprender a linguagem básica da indústria da moda, e o mundo está se movendo rápido demais para isso."

Sobrevivência
Se Armani conseguir provar que seus críticos estão errados, não será a primeira vez. Em 1985, depois da morte de Sergio Galeotti, seu parceiro na vida e nos negócios, muitos duvidavam que Armani sobreviveria. Nos primeiros dez anos de sua existência, Galeotti havia administrado o lado comercial da empresa, enquanto Armani se concentrava na criação. Os predadores começavam a cercar a companhia, e muita gente acreditava que os dias da Armani como empresa independente estavam contados.
"Foi certamente um momento de grande desespero e angústia. [...] Não tinha escolha a não ser ir em frente e confiar em mim. Tomei decisões cuidadosamente, aprendendo com meus erros."
A especulação sobre sua sucessão naturalmente se intensificou com seu 70º aniversário, mesmo que ele pareça estar em grande forma, seu torso exibindo o formato perfeito de um triângulo invertido. Armani deu a entender em dezembro, de maneira provocativa, que podia estar interessado na LVMH, da França, como parceiro estratégico, sugestão que veio à tona pela primeira vez em 1998, quando ele estabeleceu um prazo de dois anos para indicar um sucessor, decisão que terminou por não tomar. No segundo trimestre deste ano, ele disse que desejava ter um plano de sucessão em curso até 2008.
Comercialmente, Giorgio Armani continua a desfrutar de excelente saúde. Os resultados do primeiro semestre de 2004 demonstram que seu modelo peculiar de negócios está longe de obsoleto. Os lucros operacionais cresceram 23%, para 89 milhões, e as vendas, para 644 milhões, com alta de 5%.
Ele criou cinco etiquetas separadas de roupas, todas sob a marca geral Armani. Seus produtos básicos integram a linha Giorgio Armani, a marca principal, dirigida especialmente a consumidores dos 35 aos 50 anos, com ternos cujo preço inicial é de 1.500 e vestidos de gala como os vistos no Oscar, que podem custar entre 40 mil e 50 mil.
Claudia D'Arpizio, sócia na consultoria de gestão Bain & Co., diz que não está preocupada com a possibilidade de que Armani esteja perdendo parte de seu apelo de vanguarda no mundo da moda. "Como Ralph Lauren, Armani é um raro exemplo de marca bem-sucedida de estilo de vida, e as pessoas dão mais valor à consistência do que à moda."

Novos produtos
Mas a marca Armani está se estendendo a uma gama cada vez mais ampla de produtos, para ramos distintos de sua origem como alfaiate. No começo do ano, formou uma "joint venture" com a incorporadora imobiliária Emaar, do Dubai, para criar 14 hotéis com a marca Armani. O projeto envolve a abertura de dez hotéis e quatro complexos de lazer nos próximos sete anos, em Dubai, Milão, Londres, Paris, Nova York, Tóquio e Xangai.
O império Armani vem bancando a própria expansão desde que foi criado. O grupo não toma empréstimos bancários (de fato, tem cerca de 300 milhões em caixa).
Mas o grupo Armani é mais visto como presa do que como predador. Quatro anos atrás, conta, Bernard Arnault, da LVMH, fez uma proposta séria, primeiro mencionando uma aquisição pelo seu conglomerado de moda e bebidas e, mais tarde, uma fusão entre a Louis Vuitton e a Armani.
Mas ele diz ter desistido quando Arnault insistiu que, porque a Louis Vuitton era maior, Armani fosse um acionista minoritário. "Se a Armani fosse controlada por um grande grupo, como o LVMH, eu me aposentaria. Meu luxo é fazer o que quero, não o que alguém me diz."


Tradução de Paulo Migliacci

Texto Anterior: Trabalho: Política "alimenta" greve dos bancários
Próximo Texto: Obstáculo: Risco mundial ameaça retomada brasileira
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.