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OBSTÁCULO
Desequilíbrio nos EUA e petróleo preocupam; para analistas, país deve aproveitar atual momento para recompor reservas
Risco mundial ameaça retomada brasileira
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
A economia brasileira pode estar correndo contra o relógio mais
uma vez. Riscos à recuperação
mundial são reconhecidos por
analistas mais moderados e preocupam os pessimistas. Representantes dos dois grupos defendem
que o governo de Luiz Inácio Lula
da Silva aproveite, então, o bom
momento para avançar em reformas, recompor reservas e melhorar a pauta de exportações.
"Existem riscos à recuperação
mundial. O mais preocupante são
os desequilíbrios macroeconômicos nos Estados Unidos. O ideal
para o Brasil seria aproveitar as
condições favoráveis e avançar
em reformas como a da Previdência e a tributária", diz John Bowler, diretor da Economist Intelligence Unit (EIU) responsável por
América Latina.
Os efeitos de um aperto monetário maior nas economias avançadas e de uma desaceleração do
crescimento mundial -principalmente da China e dos EUA-
teriam, sem dúvida, efeitos nocivos sobre a economia brasileira.
Difícil é, dizem analistas, mensurar as possíveis conseqüências de
um choque externo.
"Do lado macroeconômico, o
Brasil avançou muito, a situação
das contas externas melhorou,
mas é difícil saber como a economia reagiria a uma desaceleração
global mais forte que o previsto",
afirma Bowler.
Entre os analistas, há os que
acreditam que o país está muito
mais preparado para enfrentar
choques externos e, por isso, não
deveria sofrer muito na hipótese
de uma crise. Já outros defendem
que o país continua vulnerável.
Na semana passada, o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
projetou uma expansão de 5% para o mundo neste ano, com os
EUA crescendo 4,3% e a zona do
euro, 2,2%. A perspectiva para o
Brasil é de uma alta do PIB de 4%
em 2004. Apesar disso, há o temor
de uma desaceleração ocasionada, principalmente, por um choque de preços do petróleo, que fechou a semana cotado a mais de
US$ 50,00 o barril em Nova York.
"Acho que o governo brasileiro
fez um trabalho muito responsável e que o país está bem mais preparado para adversidades externas. Os intensos altos e baixos do
passado devem ser mais suaves",
diz Tim Congdon, economista-chefe da Lombard Street Research, uma das consultorias mais
respeitadas no mercado financeiro londrino.
"Uma reversão do cenário global, que me parece provável, afetaria fortemente os mercados
emergentes e o Brasil. Uma desaceleração econômica na China,
por exemplo, teria impacto sobre
as exportações, principal pilar do
crescimento brasileiro", diz Wilber Colmerauer, sócio da corretora Liability Solutions.
Juros altos
Para Colmerauer, o governo
brasileiro perdeu uma oportunidade única para reduzir mais a taxa de juros entre o fim do ano passado e os primeiros meses de 2004
-a Selic caiu dez pontos percentuais no período, mas voltou a subir no mês passado e está atualmente em 16,25% ao ano.
Ele acredita também que o Banco Central deveria estar perseguindo uma política mais agressiva de recomposição de reservas.
"O Brasil ainda fica muito
aquém dos países asiáticos em vários pontos, um deles é o nível de
reservas líquidas, ainda baixo.
Acho que os próximos meses ainda serão favoráveis e o governo
deve aproveitar para reforçar suas
reservas porque, se houver uma
reversão do apetite por risco, a
tendência é que boa parte do capital especulativo que está no país,
saia", diz o analista.
Colmerauer defende ainda que
o governo invista na sofisticação
de sua pauta de exportações já
que, no médio prazo, a aposta de
analistas é a de que os preços das
commodities recuem. Pesquisa
divulgada anteontem pela EIU,
por exemplo, prevê queda de 4%
dos preços em 2005, contra elevação de 9% ocorrida neste ano.
Outro caminho sugerido por
economistas é que o governo brasileiro siga emitindo títulos no
mercado externo para garantir recursos para cobrir suas despesas
financeiras em 2005, fazendo o
chamado "pré-financiamento".
"As condições no mercado externo continuam muito favoráveis aos mercados emergentes devido ao baixo nível dos juros dos
títulos norte-americanos. Acho
que é um momento ótimo para o
Brasil voltar ao mercado, fazendo
pré-financiamento dos vencimentos de 2005", diz Dennis
Holtzapfell, chefe da área de emissões de mercados emergentes do
UBS, em Londres.
Segundo Holtzapfell, o mercado
também espera que o Brasil volte
a perseguir mais reformas depois
de passadas as eleições municipais, cujo primeiro turno é hoje.
A expectativa não é por acaso.
Embora a maioria dos analistas
ainda aposte em desaceleração da
economia global a passos moderados, os efeitos de choques -como os vividos no passado- para
o país não estão claros. Uma preocupação é o que aconteceria com
as contas externas, uma das principais vitrines do atual governo,
caso um menor ímpeto importador da China e a queda do comércio global de forma mais ampla
afetem as exportações do país.
O risco é maior se ocorre um cenário de saída de capitais de curto
prazo do país, caso os juros subam mais fortemente nos países
desenvolvidos.
Nesse caso, o Brasil deveria
compensar parte da receita e dos
recursos perdidos com atração de
investimentos diretos e com um
colchão reforçado de reservas.
A dúvida, dizem especialistas, é
se o país tem condições de atrair
investimentos em escala maior
sem avançar com maior força em
reformas estruturais, na melhoria
da sua rede de infra-estrutura e do
ambiente institucional.
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