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Dívida de empresas "frágeis" agora
concentra a atenção do mercado
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Com pesado endividamento em
dólares, uma série de companhias
desde a semana passada concentra as atenções do mercado financeiro, sacudido depois do anúncio do "reescalonamento" unilateral das dívidas da Globopar.
Um relatório divulgado pela
Merrill Lynch apontou que 8 das
27 empresas analisadas não têm
condição de pagar suas obrigações de curto prazo se não tiverem acesso a algum tipo de financiamento. De acordo com o documento, os nomes mais vulneráveis seriam Light, Klabin, Usiminas, Eletropaulo e Embratel.
A Klabin acumula, entre o último trimestre deste ano e o primeiro de 2003, vencimentos que
totalizam US$ 700 milhões. A fabricante de papel teve um fluxo de
caixa de R$ 731 milhões em 2001.
Ainda no primeiro semestre
deste ano, a empresa abriu processo de renegociação com seus
credores para alongar o perfil da
dívida. Na sexta, os credores de
um debênture de US$ 115 milhões, com vencimento em 2004,
poderiam exercer o direito de
"call" (resgate antes do vencimento).
Nesta semana vencem US$ 50
milhões em eurobônus e, em 28
de dezembro, outro eurobônus de
US$ 60 milhões. Analistas argumentam que a empresa necessitaria de financiamento de R$ 1 bilhão para superar essa concentração de vencimentos, ou então fazer uma reestruturação.
A Klabin tem hedge (proteção)
natural contra a desvalorização
do real porque é exportadora.
Mas esse hedge cobriria só 35%
das dívidas, segundo analistas.
"Eles produzem muito papelão,
papel usado em sacos de cimentos. Assim, vão depender da melhora da atividade econômica",
diz o analista Mauro Giorgi.
Giorgi aponta ainda outro fator:
como a situação financeira da
Klabin deve-se, em grande parte,
a uma enorme concentração de
vencimentos de dívida em período curto, e não a uma crise do setor de papel e celulose, diminuem
suas possibilidades de ser socorrida pelo governo, via BNDES.
A direção da empresa foi procurada pela Folha desde quarta,
com solicitações por escrito e por
telefone. Sua assessoria informou
que reuniões impediam os diretores de atender a reportagem.
Telefonia e energia
Não menos desconfortável está
a Embratel: em 2003, terá que enfrentar dívidas de US$ 790 milhões. Mais de um terço (38,8%)
vence no primeiro trimestre.
No segundo trimestre, os vencimentos correspondem a 14,5% do
total. No terceiro, estão previstos
pagamentos que correspondem a
34% da dívida. Até setembro, o
endividamento total da Embratel
era de US$ 1,3 bilhão. Naquele trimestre, a companhia acumulou
prejuízo de R$ 549 milhões, afetada pelo impacto da alta do dólar
sobre sua dívida. Para renegociar
suas dívidas, contratou a consultoria de Maria Silvia Bastos, ex-presidente da CSN.
"O que a Embratel está fazendo
é antecipar a renegociação de seus
vencimentos. Eles não teriam
condições de fazer o pagamento
total da dívida", diz a analista Carolina Gava, do BES (Banco Espírito Santo) Securities.
A Embratel foi procurada pela
reportagem da Folha, mas sua assessoria informou que a direção
da empresa não indicou porta-voz para tratar do assunto.
De sua parte, a Eletropaulo conseguiu ao longo deste ano livrar-se seguidas vezes de dar inadimplência. Em agosto, a empresa foi
salva pelo BNDES, que liberou R$
402 milhões, como parte de um
contrato destinado a cobrir perdas que as distribuidoras de energia tiveram durante o racionamento. Esse repasse do BNDES
permitiu à Eletropaulo quitar um
bônus de US$ 120 milhões.
No mês passado, outro alento:
obteve prazo de 24 meses para pagar um débito de R$ 360 milhões.
No total, até setembro, a Eletropaulo devia R$ 4,3 bilhões.
"A Eletropaulo tem um fluxo
contínuo de recursos, que são dos
usuários de energia elétrica, e a
geração de caixa é compatível
com seu endividamento. O problema é que muitas dessas dívidas
se concentram agora no segundo
semestre", diz Cristiano Martins,
analista do Sudameris Equity Research. Procurada pela Folha, a
Eletropaulo informou que não
iria se pronunciar.
Outra distribuidora de energia
elétrica, a Light tem previsto em
janeiro o pagamento de um bônus, emitido no mercado externo,
de US$ 150 milhões. A empresa é
uma das mais afetadas pela queda
no consumo de energia após o fim
do racionamento. Procurada, a
Light não se comenta o assunto
No caso da Usiminas, os temores dos analistas são provocados
pelo fato de a siderúrgica manter
uma dívida de US$ 840 milhões,
em sua maioria de curto prazo, da
qual apenas um terço, segundo
analistas, seria coberta por hedge.
A dívida total alcança os R$ 3,93
bilhões, sendo que 60% em moeda estrangeira. Como agravante,
as receitas da Usiminas no mercado interno devem cair 2% neste
ano, segundo a própria empresa.
A siderúrgica não se pronunciou.
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