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DÍVIDAS EXTERNAS
Devedoras procuram investidores e bancos até três meses antes de vencimento para negociar rolagem
Empresas "caçam" credor antes do previsto
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O "efeito manada" fez disparar
o período utilizado pelas empresas para ir à caça dos credores em
busca do refinanciamento das
suas dívidas em dólares.
Em momentos em que a tranquilidade reina, companhias sondam o mercado de três a quatro
semanas antes do vencimento do
débito. Hoje, empresas com dívidas a vencer apenas nos meses de
fevereiro e março já têm contatado os bancos e demais investidores para ver se é possível rolar
compromissos. Ou seja, faltando
quatro meses, em média, para o
vencimento.
"Essa estratégia é parte do atual
"efeito manada". A empresa até
acha que o dólar deve cair daqui
para a frente, mas pensa assim: "Se
todo mundo está tentando antecipar agora, vou sondar o mercado
também. Quem sabe dá certo e eu
fico sem essa dor de cabeça no futuro'", diz Cláudia Hausner, diretora do banco Banif Primus.
"Em momentos tranquilos, em
três semanas fechamos um novo
acordo. Agora, isso não dá mais."
A medida é bem vista pelos especialistas e foi confirmada à Folha por bancos como o BNP Paribas, Dresdner Bank e o Bank of
America, instituições especializadas em reestruturar débitos do setor privado. "Uma atitude pró-ativa agora só vai trazer benefícios, pois, caso o mercado não se
mostre aberto a renegociar o débito, a empresa terá tempo para
procurar soluções", diz Gisele Luna, diretora do Bank of America.
A Light tem US$ 150 milhões a
vencer em fevereiro e já está em
contato com os bancos e investidores, apurou a Folha. A Eletropaulo tem US$ 100 milhões que
vencem em dezembro. A Klabin
tem outros US$ 110 milhões com
data de vencimento para o próximo mês. As conversas com os credores começaram em setembro.
Na prática, há poucas razões para essa antecipação nas conversas
entre as partes. Não há previsão
de forte pressão em cima da moeda norte-americana nos primeiros dois meses do ano. Os vencimentos são de menor volume e,
portanto, haverá uma demanda
menor pelo dólar do que a verificada nos últimos meses deste ano.
Com uma procura menor pela
moeda no primeiro trimestre de
2003, não existe uma tendência de
que falte dólares no mercado e,
portanto, é menor a probabilidade de que a cotação dispare.
Mas o mercado não raciocina
com essa mesma tranquilidade.
Ainda não se sabe se o mercado
estará aberto ao Brasil no início de
2003. Até o momento as carteiras
de crédito são pouco disponíveis.
Além disso, é preciso lembrar que
as companhias brasileiras são hoje alvo de uma avaliação rigorosa
dos bancos internacionais. E isso
pode continuar por um período
no próximo ano, diz Ernesto Meyer, diretor do BNP Paribas.
Empresas na lista
A agência de classificação de risco Standard & Poor's, por exemplo, rebaixou na semana passada
a nota da Klabin, da Globopar e
da Net Serviços. Isso ocorreu porque elas estão tentando reestruturar suas dívidas e ainda não há
certeza de sucesso, na avaliação
da agência. Outras companhias,
até então não citadas pelas agências, integraram listas recentes de
companhias "com liquidez abaixo da média de mercado", informa a FitchRantings, outra companhia de classificação de risco.
Segundo a Fitch informa em seu
último relatório de outubro, estão
nesse grupo a Acesita e a BSE (do
grupo BCP). A Merrill Lynch ainda destacou a Usiminas e a Light.
No caso da Usiminas, citada pela
primeira vez entre as agências, é
lembrado que ela possui um grande volume de empréstimos em
moeda estrangeira (US$ 839,4 milhões), mas um volume menor de
operações de proteção em dólar
no mercado (US$ 320 milhões,
em 30 de junho de 2002).
A Light é outra que atrai as atenções por ser candidata a ter de
reestruturar a sua atual carteira de
débitos, na avaliação da S&P. Todas as companhias citadas foram
procuradas pela Folha, mas até o
final da tarde de sexta-feira não se
manifestaram.
Mesmo com essa atitude de
cautela dos especialistas, não há
risco de repetir no país o caso da
Globopar, dizem os analistas. A
Globopar Comunicações e Participações anunciou uma renegociação com o reescalonamento do
fluxo de pagamentos da sua dívida financeira na semana passada.
A empresa deve US$ 1,5 bilhão.
Para tentar um acordo, é preciso provar que a empresa é sólida,
está enxuta. E, se há um momento
difícil, é devido à concentração de
vencimentos da companhia num
único período. Isso é o que a Embratel está dizendo aos seus credores, segundo a Folha apurou.
Segundo o balanço da companhia em junho, a dívida chegava a
R$ 4,354 bilhões, sendo R$ 1,441
bilhão para vencimento em até 12
meses. Pouco mais de 25% desse
valor não está "hedgeado", ou seja, não está coberto por operações
de proteção no mercado.
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