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ANÁLISE
Por que o Fed deve cortar as taxas de juros
DO "FINANCIAL TIMES"
A economia dos EUA está
crescendo de acordo com
a tendência histórica, o nível de
desemprego pós-recessão é o
mais baixo em décadas, o setor
imobiliário funciona a todo o vapor e ainda assim os mercados financeiros esperam que na semana que vem o Fed (BC dos EUA)
corte as taxas de juros para 1,5%,
seu ponto mais baixo em 40 anos.
Será que enlouqueceram?
Alguns acham que o clima de
desânimo anda exagerado, particularmente os que esperam que a
economia não lhes custe votos
nas eleições que marcam a metade do mandato presidencial, na
semana que vem. Como a equipe
econômica de Bush vem destacando repetidamente em sua
campanha para animar o público,
não há muitos indicadores concretos de que os EUA estejam voltando à recessão.
O crescimento anualizado de
3,1% registrado pelos EUA no terceiro trimestre é razoável, sob
qualquer parâmetro. E, embora
ao longo do verão tenha surgido
uma perturbadora incongruência
entre os sólidos fundamentos
econômicos e os mercados fragmentados, em outubro as ações
tiveram um de seus melhores meses em 15 anos.
Mas os mercados e o Fed têm
motivo para preocupação. A realidade das economias norte-americana e mundial é muito mais
sombria do que os números sobre
o passado recente parecem indicar. O peso das provas sugere que
por volta de setembro o crescimento do terceiro trimestre já estava perdendo o gás.
Além disso, quando encaramos
o futuro como os bancos centrais
são pagos para fazer, surge o medo real de que boa parte desse
crescimento tenha sido "emprestada" do futuro. Se o padrão da
primeira metade do ano -um
início brilhante por alguns meses
seguido de desaceleração abrupta- se repetir, a economia terminará o ano envolta em desânimo.
É certo que o aumento do consumo no terceiro trimestre, estimulado pelas vendas de carros,
perdeu o ímpeto. Os números do
varejo em setembro mostram
que, enquanto o setor de carros se
retraiu, os demais não conseguiram crescer. Embora o investimento das empresas em computadores e software tenha estimulado favoravelmente a economia
no terceiro trimestre, o sentimento entre as empresas é em geral de
cautela e hesitação. Além disso,
sempre que a economia norte-americana ensaia perder o fôlego
ressurge o medo de que os consumidores vão escolher justamente
esse momento para seguir as empresas e começar a reduzir suas
montanhas de dívidas.
O Fed está diante de uma escolha difícil. Pode usar parte de seus
preciosos 175 pontos básicos de
munição agora, assumindo o risco de que as incertezas quanto a
uma guerra contra o Iraque podem inutilizar seus esforços para
estimular os gastos. Ou pode suspender o fogo e torcer para não ficar para trás, ultrapassado por
uma dinâmica de redução de dívidas e possível deflação.
No geral, como demonstra a experiência japonesa, não há muitos
motivos para esperar. A incerteza
geopolítica pode durar muitos
meses, e há outras alavancas monetárias que o Fed pode acionar
mesmo que a taxa de fundos federais caia a zero.
Outro motivo para agir é o fato
de que os EUA estão consideravelmente sozinhos. A interminável espera por um salto na demanda do resto do mundo que
absorva a sua capacidade ociosa
está atingindo proporções beckettianas ("Vamos crescer." "Não
podemos." "Por que não?" "Estamos esperando pela Europa."
"Ah!") e é provável que se alongue
até o ano que vem. O Banco Central Europeu, ainda obcecado pelas taxas de inflação do passado,
deveria adotar uma postura
agressiva e voltada para o futuro,
mas não está fazendo isso. Cabe
ao Fed mostrar-lhe o caminho.
Tradução de Paulo Migliacci
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