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GADO DOENTE
Austrália deve suprir melhores mercados compradores de carne
Ganho com vaca louca nos EUA poderá ser pequeno
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os ganhos do Brasil com a ocorrência do primeiro caso de vaca
louca nos Estados Unidos poderão não ser tão grandes como se
previu inicialmente. A única unanimidade entre os analistas do setor é que é arriscado fazer qualquer tentativa de se estimar ganhos neste momento.
A atitude do consumidor norte-americano a partir desse episódio
e o potencial da Austrália em
substituir os Estados Unidos no
mercado externo serão preponderantes para o avanço da participação brasileira no cenário internacional. O Brasil não deverá ganhar grandes mercados onde a
carne bovina é bem remunerada,
como Japão e Coréia do Sul.
"Não há o que comemorar", diz
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ex-ministro da Agricultura e
presidente da Abiec (Associação
Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes). Ao contrário, esse episódio serve de alerta a toda a
cadeia produtiva da carne brasileira para aumentar os investimentos em vigilância sanitária.
O ex-ministro diz que não haverá explosão nas exportações brasileiras devido ao problema na
carne norte-americana.
Para Pedro Camargo Neto, os
ganhos imediatos serão pequenos. Fundador do Fundepec
(Fundo de Desenvolvimento da
Pecuária de São Paulo) e ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura
nos anos de 2001 e 2002, Camargo
diz que é difícil quantificar esse
possível avanço brasileiro no
mercado externo.
Outro especialista no setor de
carnes, José Vicente Ferraz, diz
que o Brasil será beneficiado, mas
depende do grau de pânico que a
vaca louca vai provocar no consumidor norte-americano.
Analista de carne bovina da
FNP Consultoria & Agroinformativos, Ferraz diz que o cenário
mais viável é o de a Austrália
substituir os Estados Unidos nas
exportações para o Japão e a Coréia do Sul.
Austrália
Devido à seca dos últimos anos,
no entanto, os australianos não
têm capacidade para atender novos países. Com isso, deixariam
parte dos mercados da União Européia, do Leste Europeu, do
Oriente Médio e ainda parte do
asiático para o Brasil.
Mas, se houver forte queda do
consumo nos Estados Unidos, os
australianos -grandes exportadores para os norte-americanos- vão transferir essa carne
para o Japão e a Coréia do Sul, sobrando pouco para os brasileiros.
Em 2002, a Austrália exportou
386 mil toneladas de carne bovina
para os Estados Unidos. No ano
passado, o volume ficou próximo
de 350 mil toneladas.
Mas, se a curto prazo as perspectivas não são tão boas, o mesmo não ocorre a médio e longo
prazos. Os japoneses e sul-coreanos correm sério perigo de abastecimento porque dependem
apenas da carne dos EUA e terão
de rever a política de não importar carne brasileira.
O mercado de carne é unânime
em afirmar que, quanto menor
for o efeito do caso de gado com
vaca louca nos Estados Unidos,
melhor será para o comércio de
carne bovina internacional. "Um
caso prolongado e que não se resolva nos Estados Unidos será
ruim até para o Brasil porque haverá desconfiança com a carne
bovina", diz Camargo Neto.
Pratini diz que esse é o momento de o Brasil acrescentar preços
ao produto nacional. Em 1999, a
carne brasileira era exportada para 40 países. Em 2003, atingiu 114
nações.
A partir de agora o país não precisa de grandes volumes, mas de
preços. A venda de cortes especiais e embalados pode gerar preços e emprego para o país, acrescenta o presidente da Abiec.
Alerta
O caso da vaca louca nos Estados Unidos colocou o setor brasileiro em estado de alerta. Todos
são unânimes em dizer que vigilância sanitária e qualidade do
produto são indispensáveis.
Camargo Neto diz que a rastreabilidade atual não garante a qualidade da carne. É preciso se certificar de que as fazendas tenham critérios adequados de segurança.
Segurança animal é um item tão
sério que será o carro-chefe da Secretaria de Agricultura paulista
neste ano, diz o secretário Duarte
Nogueira.
Pelo menos 71% da carne bovina exportada pelo Brasil sai de
São Paulo, o que levou Nogueira a
encaminhar ao governador Geraldo Alckmin pedido de abertura
de concurso para a ampliação do
número de médicos veterinários.
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