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ANÁLISE
Festa das Bolsas de Valores talvez não dure
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
Foi o ano em que quase todas
as ações subiram e a instabilidade quase desapareceu. As ações
de pequenas empresas tiveram o
melhor desempenho em todos os
tempos, e algumas estrelas da era
da bolha se recuperaram de forma impressionante. Mas será que
essa sorte continuará?
A ascensão dos mercados de
ações começou bem antes que a
maior parte dos analistas econômicos encontrasse sinais de um
fim para os problemas de negócios que vinham deprimindo os
espíritos e o crescimento econômico desde o estouro da bolha
dos investimentos, no segundo
trimestre de 2000.
Os ganhos mais acentuados do
ano passado aconteceram no segundo e no quarto trimestres, começando alguns meses antes que
a economia acelerasse subitamente, atingindo ritmo anualizado de crescimento de 8,2% e silenciando (ou pelo menos causando
embaraço) àqueles que previam
que um longo período de torpor
econômico iria se seguir ao estouro da bolha nos mercados de
ações norte-americanos, como
aconteceu no Japão uma década
antes. Os preços voltaram a se
acelerar no final do ano.
O avanço do mercado foi tão
poderoso que muitas ações, incluindo a maior parte daquelas
que integram o índice Standard &
Poor's 500 (S&P 500), o principal
barômetro do desempenho das
grandes empresas, e o Russell
2.000, um importante indicador
do desempenho de empresas menores, estão agora acima das cotações registradas quando esses índices atingiram seus picos, no começo de 2000.
Para o ano como um todo, o índice industrial Dow Jones subiu
25% e o S&P 500 ganhou 26%, enquanto o índice composto Nasdaq subiu em 50% e o Russell
2.000 apresentou alta de 45% e registrou seu melhor desempenho
em 25 anos de história.
Reativar a economia exigiu uma
dose prolongada de política monetária relaxada, que reduziu as
taxas de juros ao seu patamar
mais baixo em mais de quatro décadas, combinada a uma grande
dose de alívio tributário, sob a
qual uma combinação de cortes
de impostos e aumentos de gastos
pôs fim aos superávits dos anos
Clinton e produziu déficits que
podem um dia desafiar os acumulados durante o governo Reagan.
A pressão final do acelerador foi
o envio pelo governo de mais de
24 milhões de cheques de restituição de impostos, relacionados a
despesas com filhos e montando a
US$ 14 bilhões. Não deveria ser
surpresa que a temporada de volta às aulas (em setembro, nos
EUA) que se seguiu à chegada
desses cheques tenha apresentado ótimos resultados de consumo. Mas houve quem não antecipasse essa tendência, e as vendas
elevadas renovaram o otimismo
do varejo com a aproximação da
temporada de festas.
O otimismo talvez tenha sido
exagerado. Os números preliminares do varejo no final do ano indicam que as lojas de luxo se saíram muito bem, obrigado, mas
que as lojas que atendem às pessoas com posição inferior na pirâmide de renda não registraram
tantas vendas. Desde o feriado de
Ação de Graças, o S&P 500 subiu
5%. Mas a média das ações de cadeias de varejo que integram o índice recuou 6%.
Se a temporada tiver sido ainda
pior do que Wall Street agora supõe, e o declínio nos preços das
ações do varejo representa menos
uma opinião de que o Natal foi
ruim do que uma impressão de
que talvez não tenha sido tão bom
quanto se esperava, isso pode ser
uma indicação de que o estímulo
econômico proveniente dos cortes de impostos está começando a
perder o ímpeto.
Na pior das hipóteses, poderia
começar a parecer que o pé de
chumbo no acelerador fez com
que a economia pulasse para frente, mas não a colocou em velocidade que permita o avanço constante que os investidores agora esperam. Muitos economistas acreditam, no entanto, que os investimentos empresariais crescerão
rápido o bastante para compensar qualquer desaceleração no
consumo.
Avanço inegável
Não há como negar a força do
avanço dos mercados de ações em
2003. Das 499 ações do S&P 500
que foram negociadas o ano todo,
92% delas subiram. Nos 24 anos
em que essa estatística é acompanhada pela Standard & Poor's, esse é o melhor desempenho, superando o velho recorde de 86% estabelecido em 1995.
"Não tivemos nada disso da vez
passada", afirma Howard Silverblatt, analista do mercado de capitais na Standard & Poor's,
apontando que a amplitude de
mercado, o nome técnico dessa
estatística, não era nem de longe
tão boa no período final da alta de
mercado encerrada no segundo
trimestre de 2000.
Em 1999, de fato, mais ações caíram que subiram, no S&P 500, a
despeito de o índice ter crescido
em mais de 20% naquele ano. "A
questão é", diz ele, "será possível
sustentar esse ritmo?"
Existem alguns sinais de que
sim, ou pelo menos de que o mercado em geral não está prestes a
desabar. Essa é a quinta vez, desde
que a Standard & Poor's começou a acompanhar essa estatística,
em 1980, que pelo menos 400 das
ações do índice subiram. Os demais anos foram 1985, 1991, 1995 e
1997. Em cada um dos casos, o índice subiu no ano seguinte, ainda
que menos que no anterior, e
mais ações subiram que desceram, ainda que o número de
ações em alta tenha caído para
acentuadamente menos que 400.
"É típico do primeiro empuxo
de uma alta cíclica de mercado",
afirma Steven C. Leuthold, presidente da corretora Leuthold Weeden Capital Management, de
Minneapolis. "No segundo ano, o
ritmo de ascensão se reduz". Ele
diz que o mercado provavelmente
subirá 10% em 2004, atingindo
um pico na metade do terceiro trimestre.
O desempenho em 2003 parece
ter feito maravilhas pela confiança dos investidores. Enquanto escândalos abalavam o setor de fundos mútuos, bilhões de dólares foram investidos em fundos de
ações. Os investidores que mantiveram as ações que se saíram melhor nos anos da bolha (em larga
medida telecomunicações e tecnologia, mas também algumas
"blue chips") não estão sequer
perto de recuperar seus prejuízos.
Mas os que montaram uma carteira mais diversificada naqueles
anos podem agora estar mais ricos do que nunca.
Medido da maneira normal, o
S&P 500 fechou 2003 com ganho
de 26,4%, mas continua 27%
abaixo de seu pico de 2000, como
os investidores de longo prazo em
fundos mútuos que acompanham o índice dolorosamente sabem. O desempenho, porém, reflete o fato de que o índice é ponderado por capitalização de mercado, ou seja, as empresas mais
valiosas do índice dominam seu
desempenho.
Essas empresas têm chance menor de recuperação plena do que
as companhias menores. General
Electric e Microsoft caíram mais
de 40% desde que o índice atingiu
seu pico. E elas, exercem impacto
maior sobre o S&P 500 do que as
169 menores empresas do índice
combinadas.
Tradução de Paulo Migliacci
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