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VOLTA ÀS AULAS
Curso intensivo da URFJ vai reorientar corpo técnico do banco
BNDES faz reciclagem para virar "desenvolvimentista"
DA SUCURSAL DO RIO
Por considerar que o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) passou a maior parte dos anos 90
atuando de forma errada, como
se fosse um banco de mercado, a
atual diretoria da instituição resolveu fazer uma reciclagem geral
no seu corpo técnico.
O objetivo é orientar a atuação
do banco para uma política nacional-desenvolvimentista nos moldes da que inspirou as ações da
política econômica brasileira entre os anos 50 e 70, baseada no estímulo ou participação direta do
Estado no desenvolvimento de setores considerados estratégicos
pelo governo, como a indústria siderúrgica, a automobilística e a
petroquímica.
Para fazer a reciclagem, o banco
estatal contratou o Instituto de
Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), da
qual o presidente do banco, Carlos Lessa, era reitor até sair para
assumir a presidência do banco
estatal.
A UFRJ, que além da ligação
com Lessa é considerada um dos
principais centros do pensamento econômico de esquerda do
país, vai ministrar cursos de quatro meses, em regime de dedicação integral (de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h), para quatro
turmas de 30 alunos cada.
Experiências históricas
O objetivo, segundo o texto do
programa do curso, é "aperfeiçoar a capacitação dos técnicos do
BNDES na análise de processos,
conceitos e experiências históricas de desenvolvimento, com destaque para a experiência brasileira".
O curso é dividido em seis módulos que discutirão vários aspectos da teoria e da história econômica, com ênfase no estudo da experiência desenvolvimentista
brasileira.
A formulação de políticas industriais, tema que chegou a ser
um tabu no debate econômico
brasileiro nos últimos anos, também é prioridade no curso.
Técnicos do banco que tiveram
acesso aos primeiros rascunhos
do programa do curso dizem que
a ênfase no nacional-desenvolvimentismo era muito mais direta,
como se quisesse dizer que a equipe do banco deveria esquecer tudo que havia aprendido até então.
Isso foi posteriormente amainado.
Apoio
O sociólogo Hélio Jaguaribe, 79,
um dos formuladores da teoria
nacional-desenvolvimentista nos
anos 50, aprova a mudança de rumo do BNDES. "O nacional-desenvolvimentismo tem aspectos
permanentes e outros que precisam ser ajustados à situação histórica internacional", disse.
Para ele, "ficou absolutamente
claro, no curso do século 20, que
países subdesenvolvidos, sobretudo os de grande população, não
podem superar seu subdesenvolvimento sem uma ativíssima intervenção do Estado".
Tanto o presidente Lessa como
seu poderoso vice, Darc Costa, assumem totalmente a condição de
nacional-desenvolvimentistas.
Costa, que foi professor da ESG
(Escola Superior de Guerra) por
muitos anos e tem o seu pensamento econômico fortemente influenciado por esse período, vem
ganhando cada vez mais influência na gestão do banco.
Adversários da atual direção
chegam a dizer que ele tem mais
poderes do que o próprio Lessa.
Além disso, estaria se delineando
uma disputa de poder entre Costa
e o diretor da estratégica Área de
Inclusão Social, Marcio Henrique
Monteiro de Castro.
Projetos enquadrados
O planejamento do que deve ser
priorizado, uma das características clássicas da intervenção do Estado preconizada no modelo nacional-desenvolvimentista, já está
sendo posto em prática nas análises que o Comitê de Crédito do
BNDES, formado por seus dez superintendentes de área e pelo chefe de Gabinete da Presidência, estão fazendo para dizer quais os
projetos que se enquadram no
que o banco estatal considera financiável.
Escolhida a dedo na elite do corpo técnico do banco, a maioria do
Comitê de Crédito tem como
principal característica a afinidade com o pensamento desenvolvimentista.
Pouco enraizado no corpo técnico do BNDES, o PT, partido no
governo, tem apenas um militante histórico no Comitê, o superintendente da Área Social, Paulo
Melo.
O diretor da Área Industrial do
banco, o também petista Maurício Lemos, dá pistas do que não
deverá mais passar na triagem do
Comitê. Hotéis que não sejam relacionados a projetos mais amplos de desenvolvimento turísticos, no eixo Rio-São Paulo, por
exemplo, e shopping centers encabeçam a lista.
Paralisia
Os críticos da atual gestão do
BNDES dizem que o Comitê de
Crédito está sendo excessivamente burocrático na análise dos projetos e, por isso, lento. A prova seria o fato de os enquadramentos
de novos projetos a serem financiados ter caído 63% em relação
ao mesmo período do ano passado.
O diretor Lemos admite que os
dois primeiros meses do ano foram de relativa paralisia para o
banco estatal. Primeiro, porque a
atual diretoria só assumiu depois
do dia 15 de janeiro.
Depois, porque a reformulação
gerencial tomou até o final de fevereiro. "Agora estamos entrando
em velocidade de cruzeiro, em
um excelente ritmo", afirmou o
diretor.
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