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CONSUMO
Clientes com maior poder aquisitivo em busca satisfação pessoal elevaram em 19% as vendas de marcas internacionais em 2003
"Novo luxo" movimentará R$ 3 tri em 2010
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um grupo de consumidores
no mundo que desembolsam US$
32 mil (R$ 96 mil) pelo modelo
BMW série 3, mas não deixam
passar a promoção de camisetas
brancas no Wal-Mart, a US$ 6,84
cada uma. Com renda anual entre
US$ 50 mil e US$ 150 mil (R$ 150
mil a R$ 450 mil), eles não são milionários, gostam de pechinchar e
formam o público que salvou várias empresas de resultados de
vendas medíocres em 2003.
Identificada como classe alta ou
média alta, essa turma de consumidores gasta em todo o mundo
US$ 840 bilhões por ano -cerca
de R$ 2,5 trilhões, ou uma vez e
meia o PIB brasileiro- na compra de produtos do "novo luxo"
do varejo. São chamados assim
por serem vistos hoje mais como
meio para a satisfação pessoal e a
auto-estima do que propriamente
para a afirmação de status.
Esse público foi alvo de relatório
de 47 páginas da consultoria BCG
Group, que mostra que:
1) No ranking das 15 marcas
preferidas estão Coach (roupas e
acessórios), Starbucks (café)
BMW (automóveis) e Lowe's (loja
de artigos para casa), entre outras.
Elas vendem produtos que variam de R$ 3,75 (café mais barato
na Starbucks) a R$ 510 mil (último modelo sedã da BMW).
2) Esse grupo de companhias
registrou um aumento nas vendas
de 19% em 2003, em média. O resto do mercado (alimentos e não-alimentos) teve alta de só 3%.
3) Os acionistas dessas empresas tiveram um retorno médio ao
ano, de 2000 a 2003, de 26%. O índice Standard & Poor's, das 500
maiores empresas, registrou elevação de 4% no período.
4) Em 2010, esse público vai gastar US$ 1 trilhão (mais de R$ 3 trilhões) ao ano em mercadorias de
alto valor agregado no mundo.
Calcula-se uma expansão anual
na venda desses produtos de 15%,
em média, nos próximos anos, segundo informações da BCG obtidas com empresas que atendem
esse público em 23 categorias.
Publicado por Michael Silverstein e Neil Fiske, sócios da BCG
nos EUA, o documento reforça
que, mesmo em crises econômicas, a demanda dessa categoria
mantém ritmo acelerado.
"Nos anos de 2002 e 2003, esse
grupo de pessoas foi mais cuidadoso na hora de gastar dinheiro,
mas eles não pararam de comprar, mesmo com instabilidade
econômica em alguns mercados.
Isso porque eles querem adquirir
coisas para se sentir bem, para se
sentir orgulhosos", disse à Folha
Michael Silverstein, vice-presidente da BCG em Chicago, EUA.
Na avaliação dele, trazer essa
realidade para o cenário brasileiro
tem suas complicações, mas é
possível. "Um aumento na renda
per capita da classe média brasileira vai impulsionar a demanda
pelos luxos disponíveis do país",
afirma. "De qualquer forma, o
Brasil já tem núcleos formados
por uma população extremamente rica, consumista e consciente
dos valores das marcas", diz.
Formado por aqueles que ganham acima de dez salários mínimo (R$ 2.600), segundo a BCG, a
classe A e B no país somava cerca
de 7,1 milhões de famílias brasileiras em 2003, com base em dados
do IBGE. O Brasil tem 48,5 milhões de famílias no total.
Já nos EUA, essa classe média
que ganha de US$ 50 mil a US$
150 mil reúne 48 milhões de famílias. No total, existem 75,6 milhões de famílias americanas.
Para Renata Ribeiro, diretora da
área de consumo da BCG no Brasil, as comparações entre países
são delicadas. "Não temos o mesmo padrão de renda dos americanos. O que existe de similar é só o
desejo de consumo", afirma.
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