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EM TRANSE
Déficit financeiro de junho, dado mais recente, foi de US$ 4,2 bilhões, pode ter sido maior em julho e derrubou o real
Fuga de dólar é a maior desde a máxi de 99
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit financeiro (saída de
dólares) do país em junho foi o
maior desde a maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999,
embora desta vez a natureza da
crise seja diferente. Em vez de
apenas remessas de dólares, o que
pressiona o balanço financeiro é o
pagamento de dívidas, que não
puderam ser roladas devido à seca de dólares para o país.
"É muito provável que o resultado das remessas ao exterior em
julho [que o BC vai divulgar nos
próximos dias] supere os números de junho. A tensão no mercado cresceu consideravelmente",
afirma Eduardo Berger, economista do banco Lloyds TSB.
O resultado negativo de junho,
de US$ 4,2 bilhões, é a diferença
entre os dólares que entraram e
saíram por meio de operações financeiras -como empréstimos,
pagamentos de dívidas e remessas de lucros e dividendos. Em janeiro de 99, a saída superou a entrada em US$ 6,7 bilhões.
O aumento do desequilíbrio
deu combustível à escalada do dólar e fez a moeda dos EUA atingir
níveis recordes nos últimos dias.
O fechamento das linhas de crédito no mercado internacional
para o Brasil teve efeito decisivo
para o quase recorde de junho.
Empresas endividadas tiveram
grandes dificuldades para rolar
suas dívidas no exterior e tiveram
de comprar dólares para quitar
grande parte delas.
O resultado foi a queda brutal
no nível de rolagem de vencimentos externos privados em junho,
que ficou em 22%. No ano passado, as empresas conseguiram rolar mais de 95% dos vencimentos.
Os descontos dados por credores
para pagamentos antecipados de
dívidas privadas também alimentaram o aumento de remessas para o exterior.
De resto, a saída de recursos por
meio de contas CC-5 (contas de
pessoas ou empresas residentes
ou instaladas no exterior) também cresceu no mês. Em junho,
as remessas para o exterior por esse canal totalizaram US$ 605 milhões. Apenas nos 12 primeiros
dias do mês passado, saíram US$
690 milhões por meio das CC-5.
O instrumento costuma ser bastante utilizado em momentos de
maior nervosismo, pois não é preciso informar ao BC o motivo da
remessa. Basta que o destinatário
dos recursos seja identificado.
"A demanda por dólares cresceu muito e deu fôlego para a disparada da moeda. Além de as empresas não estarem conseguindo
novos empréstimos, é normal que
em um momento de maiores incertezas, como o atual, as matrizes solicitem um envio maior de
lucros em vez de de reinvestir por
aqui", diz Berger.
Desequilíbrio
Nas operações cambiais que envolvem o comércio exterior, o saldo tem sido positivo. Ou seja, tem
havido mais vendedores de dólares (os exportadores) que compradores (os importadores). Em
junho, os exportadores venderam
US$ 6,1 bilhões, enquanto a compra feita pelos importadores ficou
em US$ 2,8 bilhões.
"O problema é que não há equilíbrio entre a demanda e a oferta
de dólares no mercado. O dinheiro que os exportadores levam ao
mercado não tem sido suficiente
para compensar a busca crescente
de dólares por parte das empresas", afirma Fernando Coelho,
economista da ABM Consulting.
A concentração de vencimentos
neste mês deve manter a pressão
no mercado de câmbio e o forte
déficit nas operações financeiras.
Dos US$ 6,4 bilhões em dívidas de
bancos e empresas que vencem
no exterior até o fim deste ano, segundo levantamento da Folha,
30% do total (ou US$ 2 bilhões)
são neste mês. "A tensão, e consequentemente o aumento de saída
de recursos e a alta do dólar, podem ainda se intensificar até as
eleições presidenciais [em outubro]", afirma o economista Vladimir Caramaschi, da Fator Doria
Atherino.
No mês passado, segundo o BC,
as operações de câmbio financeiras estavam negativas em US$ 878
milhões até o dia 12. Segundo informações do mercado, o resultado negativo já havia crescido para
US$ 1,5 bilhão até o dia 15. Nas últimas semanas do mês, a alta do
dólar ganhou considerável força.
A moeda dos EUA chegou a ser
negociada a R$ 3,61 na última
quarta, para fechar vendida pelo
preço recorde de R$ 3,47. Analistas afirmam que o esperado acordo financeiro com o FMI pode
acalmar um pouco o mercado.
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