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O VAIVÉM DO DÓLAR
Empresas recorrem a debêntures para captar US$ 3,9 bi
Recessão global e Argentina
restringem crédito externo
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O crédito ficou mais caro para
as empresas brasileiras. Sem acesso ao mercado internacional, precisaram recorrer às debêntures
para levantar cerca de US$ 3,9 bilhões até setembro deste ano. Linhas de crédito no mercado externo, se não forem para cobrir operações de comércio exterior, estão
praticamente fechadas.
O desaparecimento das fontes
de financiamento externo ocorre
por conta da recessão mundial e
do agravamento das crises argentina e turca, que, desde o início do
ano, assusta os investidores.
Com exceção de grandes empresas e bancos, que têm conseguido colocar papéis no mercado
internacional a custos razoáveis,
resta aos empresários brasileiros
recorrer ao mercado interno ou
adiar planos de investimento.
Parte da captação externa foi
realocada para o mercado nacional. A emissão de debêntures
-títulos com vencimento predeterminado- neste ano cresceu
51% até setembro em comparação com os primeiros nove meses
de 2000. Em dólares, o crescimento foi de 21%, com as emissões
chegando a US$ 3,9 bilhões.
O volume começou a crescer
principalmente a partir de março,
depois que as crises na Turquia e
na Argentina assustaram os investidores internacionais que tradicionalmente compram papéis
de países emergentes.
"Os negócios andam em velocidade mais lenta. Os custos subiram e há uma concentração nos
melhores tomadores. Alguns dos
bancos que tinham alta exposição
em países emergentes decidiram
realocar recursos", explica Lúcio
Moura, diretor da divisão internacional do Lloyds TSB.
Com exceção das operações de
financiamento de comércio exterior, que continuam estáveis, as
demais linhas de crédito para empresas de países emergentes foram reduzidas e concentradas em
poucas empresas. O HSBC prevê
fechar, em 2002, o mesmo volume
de operações de comércio exterior que terá neste ano.
O Sudameris, que financia cerca
de 10% das exportações brasileiras, também prevê estabilidade
para esse tipo de operação. "Houve uma pequena paralisação logo
após os ataques terroristas nos
EUA, mas a situação se normalizou", diz João Luiz Pasqual, diretor de finanças e da área internacional do banco.
"Essas operações, que geralmente têm prazo de um ano, devem se manter estáveis", diz Antonio Assis, diretor de negócios
internacionais do HSBC. Os custos para fechá-las, no entanto,
continuam mais altos do que os
registrados antes do agravamento
da crise argentina, explica Assis.
No início do ano, a taxa de juros
cobrada nesses empréstimos estava 0,4 ponto percentual acima da
libor -a taxa de juros praticada
no mercado londrino. Hoje, em
alguns casos, paga-se um adicional de dois pontos percentuais.
Para outras operações, o mercado fica virtualmente fechado. "Se
não é uma Petrobras, fica muito
caro para a empresa fazer um financiamento de médio prazo",
diz o diretor do HSBC.
Nem a redução das taxas de juros internacionais ajuda a reduzir
os custos de financiamento das
empresas brasileiras, como aconteceu no início da década de 90.
Aversão ao risco
O último relatório sobre o mercado internacional de capitais do
FMI mostra que, quando as taxas
de juros nos EUA caíram 4,5 pontos percentuais, entre 1991 e 1993,
os investidores saíram à procura
de papéis com rendimentos mais
altos que os títulos da dívida norte-americana. Os fluxos de capital
destinados a papéis de países
emergentes subiram 32%.
Neste ano, no entanto, os juros
já caíram quatro pontos percentuais nos EUA, mas o volume de
dinheiro para os países emergentes despencou 20% no primeiro
semestre. Por que o comportamento é diferente? "A aversão ao
risco hoje é muito maior do que
naquela época", diz Paulo Vaz, diretor do banco Barclays e Galícia.
De fato, entre 1991 e 1993 o índice Embi do JP Morgan (um indicador da avaliação de risco de um
conjunto de países emergentes)
oscilou entre 600 e 650 pontos. De
1998 a 2000, saltou de 600 para
1.200 pontos.
Num mercado em que os investidores se mostram menos propensos a investir em papéis mais
arriscados, o Brasil deve enfrentar
ainda mais dificuldades. "A indefinição gerada pelas eleições complica ainda mais o cenário", afirma Vaz.
"Colocar papéis com vencimento até dezembro de 2002 é mais fácil. A partir daí a seletividade aumenta bastante", completa.
Volta dos investidores
O diretor da área de soluções estratégicas do Dresdner, Klaus Heritt, tem avaliação mais otimista.
Ele lembra que os investidores
que colocam seus recursos em
países emergentes já estão, de certa forma, acostumados com esse
tipo de investimento.
"É natural que eles corram para
um lugar mais seguro por algum
tempo. Mas cedo ou tarde eles começam a procurar por um retorno mais atrativo", diz Heritt, explicando por que avalia que a procura por papéis de empresas brasileiras deve voltar a crescer.
Para o diretor do Dresdner, o
Brasil acabará se transformando
na opção mais viável para quem
investe na América Latina. "As
opções são México, Chile, Argentina e Brasil. Mas México e Chile
pagam taxas menores, e o risco da
Argentina é muito alto", afirma.
Assim, explica o diretor do
Dresdner, os papéis brasileiros serão a melhor alternativa para
quem quiser um ganho maior
com risco suportável.
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