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Estrangeiros ditam oscilação do mercado
DA REPORTAGEM LOCAL
Os últimos dois meses exemplificaram bem o peso que os
estrangeiros têm nas oscilações
da Bolsa de Valores de São Paulo. A saída recorde de capital
externo nesse período foi
acompanhada por perdas expressivas da Bolsa. Em estudo
inédito, o INI (Instituto Nacional de Investidores) apurou o
quanto a correlação entre a variação do Ibovespa e os movimentos de aplicações ou retiradas de capital externo é elevada, ou seja, os estrangeiros são a
categoria que mais influencia
no sobe-e-desce da Bolsa.
O estudo considerou um período de 42 meses. A partir dos
movimentos de compra e venda de ações de cada categoria e
o resultado mensal do índice
Ibovespa, o INI demonstrou
que as decisões dos estrangeiros coincidem com o resultado
(de alta ou de baixa) da Bolsa
em aproximadamente 72% do
período. Isso significa que, na
maior parte dos meses de saldo
negativo nas operações dos estrangeiros, como tem ocorrido
agora, o Ibovespa teve perdas.
Na outra ponta, apareceu a
pessoa física como a categoria
cujas decisões de aplicações
menos coincidem com os ganhos ou perdas apurados pelo
Ibovespa -principal referência
da Bolsa- em cada mês.
"O impacto dos estrangeiros
no resultado da Bolsa tem aumentado ainda mais de um ano
para cá. O problema é que suas
decisões de investimento não
sofrem motivações internas.
Não é porque uma empresa
brasileira teve um balanço
muito bom que os estrangeiros
vão deixar de vender suas
ações", afirma Paulo Portinho,
gerente-geral do INI.
Os meses de junho e julho foram recordes no que se refere à
saída de capital externo. Em junho, os estrangeiros mais venderam que compraram ações
no montante de R$ 7,41 bilhões. Em julho, outros R$ 7,78
bilhões líquidos deixaram o
pregão da Bolsa.
Para o resultado do índice
Ibovespa, esse movimento foi
devastador: houve queda de
10,4% em junho e nova perda
de 8,5% em julho.
"O estrangeiro sai, e é a pessoa física quem sofre. Seria
bom que o nosso mercado tivesse mais investidores brasileiros de longo prazo para que
esses movimentos de entrada e
saída de capital externo, muitas
vezes irracionais em relação ao
o que a economia local vive, tivessem impacto menos intenso", afirma Portinho.
Os estrangeiros são a categoria que mais negocia na Bovespa. No ano, respondem por
35,3% das operações. Em segundo lugar aparecem os institucionais (como fundos de pensão), com 28%, e depois a pessoa física, com 25,6%.
"Com o aumento da aversão
ao risco, eles [os estrangeiros]
acabam saindo das ações mesmo. E deve demorar um pouco
ainda para o clima mudar e retornarem", diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.
O mercado acionário brasileiro tem sofrido com a piora do
cenário internacional. A motivação dos estrangeiros para
vender ações não está relacionada a problemas internos, como uma desconfiança político-econômica ou um momento
ruim das companhias.
O agravamento da crise que
começou nos problemas enfrentados pelo setor de crédito
imobiliário americano de alto
risco, no ano passado, levou investidores internacionais a
vender papéis em lugares com
bom desempenho para cobrirem rombos lá fora.
Parte do capital externo que
tem saído das ações tem migrado para títulos públicos brasileiros, que se tornaram mais
atrativos com a intensificação
do aumento dos juros básicos.
(FABRICIO VIEIRA)
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