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Noruega tem empresa no Brasil para
comprar apenas grão convencional
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em 1999, a empresa norueguesa
Denofa se instalou no Brasil com
um objetivo: garantir que toda a
soja exportada para Noruega não
tivesse nenhum grão transgênico.
Até aquele ano, esse país nórdico, com cerca de 4 milhões de habitantes, comprava soja dos EUA
e da Argentina. Com a expansão
do cultivo de sementes geneticamente modificadas nos dois países, a Denofa se mudou para o
Brasil, que era, oficialmente, um
país livre de transgênicos. Os agricultores do Rio Grande do Sul, no
entanto, já plantavam a soja geneticamente modificada.
O volume de negócios é pequeno perto das exportações totais
brasileiras de soja. Neste ano, a
Denofa deve mandar para seu
país cerca de 450 mil toneladas de
soja, o equivalente a US$ 100 milhões. A exportação total do Brasil
de soja e seus derivados deve chegar a US$ 8,2 bilhões.
"A Noruega tem uma das leis
mais rigorosas da Europa", diz o
presidente da Denofa, Christian
Kaels. Os maiores mercados europeus permitem a entrada de
transgênicos desde que devidamente rotulados. Já a lei norueguesa proíbe no seu território a
presença de qualquer produto geneticamente modificado.
Garantir que os consumidores
noruegueses não comerão transgênicos tem um custo. A Denofa
montou uma estrutura com 20
funcionários no Brasil para enfrentar a tarefa. A empresa, que é
privada, afirma que o lucro é possível, pois o custo de vida na Noruega é mais alto.
"Com os testes que fazemos para verificar se a soja é ou não
transgênica gastamos até US$ 1
milhão por ano", diz Kaels. A segregação dos grãos também envolve uma logística complexa, cujo custo a empresa não revela.
O primeiro passo do processo é
fechar contratos com cerca de 200
produtores que se comprometam
a plantar apenas sementes convencionais. Antes do plantio, no
entanto, a Denofa faz análises para garantir que não há contaminações de transgênicos.
Na época da colheita, cuidados
adicionais encarecem ainda mais
a operação. Além de analisar os
grãos que serão transportados, os
caminhões precisam ser totalmente limpos.
Os armazéns que recebem o
produto são destinados o ano inteiro à soja convencional. Ficam
uma parte do ano vazios, ao contrário dos demais armazéns. O
navio que sai de Santa Catarina só
carrega a soja convencional que
vai para a Noruega. É um navio
pequeno, se comparado com o
padrão de mercado.
Professor de política ambiental
da Universidade de Idaho (Estados Unidos), Charles Benbrook
afirma, num recente relatório,
que as estimativas de custo de separar a soja transgênica da convencional variam de US$ 5 a US$
25 por tonelada. Uma tonelada,
neste ano, está sendo vendida a
cerca de US$ 220.
Mato Grosso é o único Estado
do qual a Denofa compra. No resto do país, a empresa norueguesa
afirma que não tem controle para
garantir a qualidade da soja.
Luiz Antonio Cunha Pinto, diretor da Agromon, é um dos principais fornecedores da Denofa.
Cunha afirma que é vantajosa a
relação com a empresa, pois ele
recebe financiamentos para sua
produção a custos mais baixos
que os de bancos nacionais.
Segundo Kaels, com a introdução da soja transgênica no Brasil,
os produtores de soja convencional vão querer receber um prêmio
para continuar plantando o produto. Atualmente, diz Kaels, as
duas sojas são compradas pelo
mesmo valor.
Questão estratégica
A liberação da soja transgênica
no Brasil deve levar em conta
questões comerciais. Dos grandes
mercados importadores da soja
brasileira, nenhum proíbe a importação de grãos geneticamente
modificados, como alegam os
opositores da liberação dos transgênicos.
Mas há obstáculos à soja transgênica, sobretudo na União Européia. As cargas embarcadas para
os países europeus precisam
identificar se a soja é ou não transgênica. Desde 2 de julho, alimentos com mais de 0,9% de transgênicos precisam ser rotulados na
União Européia. Esse é um percentual mais rigoroso do que o 1%
fixado recentemente pela legislação brasileira.
De acordo com as associações
que representam os exportadores
de soja (óleo, grãos e farelo), há
empresas no Reino Unido e na
França que só compram soja convencional e por um preço mais alto, entre 5% e 7%, segundo estimativas dos exportadores.
(ANDRÉ SOLIANI E MARTA SALOMON)
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