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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Internacionalização das empresas brasileiras
LUCIANO COUTINHO
A nova agenda do desenvolvimento brasileiro inclui desafios urgentes para aumentar a
competitividade da economia,
tais como o deslanche de inversões em infra-estruturas (energia
e logística), a expansão dos investimentos em setores com elevada
taxa de utilização da capacidade
instalada, o reforço aos mecanismos de financiamento das exportações e, last but not least, o robustecimento das empresas nacionais para que possam operar
internacionalmente.
Como é sabido, em muitos setores nos quais o Brasil possui vantagens competitivas, o tamanho
das nossas empresas é modesto
em comparação com o das empresas de países concorrentes (desenvolvidos e em desenvolvimento). O estágio de internacionalização das empresas brasileiras é
também -com poucas exceções- incipiente, especialmente
em termos de instalações produtivas e de distribuição no exterior.
De outro lado, reconhece-se que a
ocupação de novos espaços de
mercado depende da consolidação de empresas brasileiras com
capacidade de se internacionalizarem (via exportações e via inversões no exterior). Entre os vários setores em que se põe esse desafio, podem-se citar os seguintes:
siderurgia, mineração, petróleo,
petroquímica, celulose e papel,
agronegócios (sucos cítricos, café,
soja e derivados, aves e suínos),
alimentos e bebidas, aviões, mídia, calçados, serviços de engenharia e segmentos das indústrias
de máquinas e equipamentos e de
autopeças. Para as empresas líderes desses setores, o aumento das
operações no exterior, o desenvolvimento tecnológico e a eficiência
competitiva em mercados regionais e globais não é apenas um
complemento à atividade exportadora mas uma estratégia imprescindível, cuja ausência pode
custar-lhes a sobrevivência a longo prazo (1).
Impõe-se sublinhar que essa nova agenda de consolidação e de
robustecimento de grandes empresas nacionais em bases competitivas pressupõe inserção harmônica na cadeia produtiva, maximização da agregação de valor e
excelência de gestão -atributos
que, evidentemente, não decorrem só de aumento do porte das
empresas. Por isso o processo de
consolidação precisa ser acompanhado por modelos eficientes de
governança corporativa e por firmes investimentos em capacitação tecnológica.
Em determinados setores, nos
quais a concorrência tende a assumir cada vez mais um caráter
global, a internacionalização das
grandes empresas é imperativa. O
caso da indústria aeronáutica é
emblemático -as economias de
escala e de escopo não permitem
mais que um punhado de players
mundiais. A Embraer já se move
nessa direção com a montagem
de uma planta na China que tem
como alvo o seu dinâmico mercado. Nesse setor, a intensidade da
capacitação tecnológica e a importância das condições de financiamento sublinham, em todos os
casos, o papel relevante das políticas públicas para o avanço competitivo das respectivas empresas.
A nossa Petrobras, que acaba de
completar 50 anos, defronta-se
com o desafio de se firmar como
grande empresa regional e internacional com base em sua comprovada eficiência operacional e
em sua notável competência na
exploração em águas profundas.
A empresa precisa operar ativos
no exterior (e.g. refino nos EUA,
atuação mais forte na África,
eventual parceria com a PDVSA,
a estatal da Venezuela) e precisa
lidar com o novo desafio criado
pelas sua significativa descoberta
de gás na bacia de Santos.
A Vale do Rio Doce já avançou
bem mais em seu posicionamento
na condição de líder do mercado
mundial de minério de ferro, mas
ainda tem de galgar significativos
degraus em outras áreas para
chegar perto das gigantes mundiais de mineração. Em outros
casos de nichos específicos, registrem-se as experiências bem-sucedidas de internacionalização da
Sabó (autopeças) e da Marcopolo
(carrocerias).
Já, no caso das empresas brasileiras líderes dos setores de siderurgia, petroquímica, celulose e
papel, alimentos e bebidas, sucos
cítricos, soja e derivados, café,
carnes de aves e suínos, calçados
-todos com claro potencial competitivo-, o estágio de internacionalização é ainda infantil ou
mesmo embrionário. Nesses casos, é de relevante interesse para o
país que a política industrial contribua para a consolidação de
grandes grupos privados brasileiros a fim de que possam operar
internacionalmente. Todavia o
apoio a esses processos não deve
ser incondicional. Desses grupos
empresariais devem-se cobrar excelência na gestão, programas
ambiciosos de desenvolvimento
tecnológico e que investimentos
no exterior alavanquem mais exportações e ocupem novos espaços
dinâmicos no mercado mundial.
(1) Vide a respeito interessante artigo recente dos professores João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzzo,
Célio Hiratuka e Rodrigo Sabbatini, da
Facamp ("A internacionalização de empresas no capitalismo contemporâneo:
breves notas sobre a inserção competitiva da indústria petroquímica brasileira").
Luciano Coutinho, 54, é professor titular do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Foi secretário-geral do Ministério da Ciência e
Tecnologia (1985-88).
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