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PERSPECTIVA
Órgão culpa política contracionista por baixo desempenho em 2003
Para Cepal, cautela demais do BC atrasou crescimento
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe)
também capitulou. A agência regional da ONU diz que a política
"contracionista" do BC comprometeu a economia neste ano e por
isso não se cumprirá a previsão de
crescimento de 1,5% anunciada
pela entidade em agosto.
Manuel Marfán Lewis, diretor
da Cepal e ex-ministro da Fazenda do Chile, argumenta que o
comportamento "excessivamente
cauteloso" do BC na condução da
política monetária (leia-se dos juros) provocou atraso na reativação da economia, depois da crise
de confiança do período pré-eleitoral, e, consequentemente, é responsável pela medíocre taxa de
crescimento "contratada" para
2003. Em seu relatório de inflação
divulgado na segunda-feira, o BC
já havia revisto de 1,5% (o dado de
junho) para 0,6% a projeção de
expansão para este ano.
A Cepal divulga dois relatórios
anuais sobre o desempenho econômico dos países da região: o
primeiro em agosto (na época, a
estimativa era de 1,5% para o Brasil, o mesmo que se previa para a
América Latina como um todo) e
uma revisão, em dezembro. A burocracia interna do órgão impede
a apresentação de estimativas fora
das datas. "Uma coisa é ter espaço
para crescer; outra, que esteja
aproveitando esse espaço", disse
Marfán. "O crescimento será menor (que o 1,5%) simplesmente
porque a possibilidade de retomada foi atrasada", completou.
De acordo com ele, a política
monetária do BC ainda permanece "mais contracionista do que se
poderia aceitar". O economista
argumenta que a taxa básica de
juros, a despeito do corte acumulado de 6,5 pontos percentuais
nas últimas três reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), não foi reduzida na mesma
proporção do recuo da inflação.
Para o diretor da Cepal, o Brasil
poderia encerrar o ano com uma
taxa de juros reais (taxa nominal
menos a inflação) de um dígito.
Desde que mantenha em ordem
as contas fiscais. "O maior risco
para o governo é ser afetado por
algum tipo de ansiedade e isso resultar em desordem das contas
públicas", afirmou o ex-ministro.
Segundo Marfán, taxas de juros
nominais mais baixas devem implicar "algum" repique na inflação, mas ele considera que não se
constituiria uma ameaça. "A inflação caiu bruscamente. É possível que ocorra algum repique,
mas não nos mesmos níveis do
ano passado. Inflação não se
constitui mais uma ameaça."
O diretor da comissão agregou
dois fatores que hoje não constituem elementos de pressão inflacionária: a queda no consumo, no
mercado interno, e o comportamento estável do preço do petróleo, no mercado mundial.
Condições favoráveis
Marfán avalia que o recuo na taxa de investimentos da economia
-entre abril e junho, ela foi de
17,88% do PIB, o pior resultado
desde o segundo semestre de
1991- deve-se a fatores "conjunturais". "Os atuais indicadores líderes, aqueles que antecipam o ciclo econômico, dão razões para
acreditarmos em um crescimento
de 3% em 2004. De todos os países
latino-americanos, o Brasil é hoje
o que tem melhores condições para voltar a crescer", afirmou.
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