|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO LULA CEM DIAS
BC deve aproveitar bom momento para recompor suas reservas e reduzir dívida interna corrigida pelo câmbio, afirma Loyola
Juros altos atraem captação de curto prazo
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fator decisivo para a queda vertiginosa das cotações do dólar, a
volta das captações de recursos
externos por empresas brasileiras
ainda está baseada no capital de
curto prazo, atraído pelos juros
altos do Banco Central.
Levantamento feito pela empresa de consultoria Tendências
mostra que, de 32 operações de
lançamento de papéis no exterior
neste ano, 22 tiveram prazo de um
ano ou menos para o pagamento
da dívida; destas, 17 foram feitas
por bancos.
Trata-se de uma pista clara da
natureza desses negócios. Os bancos, tradicionalmente, buscam recursos no exterior, onde os juros
são mais baixos, para emprestá-los no país, tirando partido da diferença de taxas -operação tipicamente especulativa.
"Capital de longo prazo nós ainda não temos", diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sócio da
Tendências. Embora considere
que a política de austeridade do
governo Luiz Inácio Lula da Silva
tem méritos na melhora dos indicadores, Loyola recomenda cautela na avaliação dos resultados:
"O BC não pode cantar vitória
nem tratar esse capital externo como estável".
O mérito do governo, como
concorda praticamente todo o
mercado, foi afastar os temores de
que a troca de poder viria acompanhada de quebra de contratos,
afrouxamento das metas fiscais
ou leniência com a inflação. Além
disso, a vigorosa recuperação da
balança comercial, iniciada em
2002, minimizou o déficit externo
brasileiro.
Para Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do JP Morgan, foi
desfeito o "cenário catastrófico"
desenhado pelo mercado a partir
da campanha eleitoral. No entanto, observando as cotações do dólar e o risco-país, a situação ainda
é pior que há 12 meses.
O que fazer
"Não pára de entrar dinheiro de
curto prazo, por causa dos juros",
diz Lopes, que cita as captações
externas como o principal canal
de entrada de capital externo, seguido pelos fundos especulativos
de investimento conhecidos como "hedge funds".
O economista acrescenta ainda
que a alta das cotações dos C-Bonds, principal título da dívida
externa brasileira, é baseada principalmente em operações de investidores nacionais.
Tudo isso significa que a atual
euforia do mercado pode se desmanchar tão rapidamente quanto
a histeria de antes. O comportamento do dólar neste ano é um
exemplo disso: abriu o ano em R$
3,54, despencou para R$ 3,26 ainda em janeiro, voltou a subir e
atingiu um pico de R$ 3,66 em
março, despencou e, anteontem,
fechou em R$ 3,22.
Diante dessa conjuntura, o que
fazer? Loyola descarta a idéia de o
BC comprar dólares para evitar
que a queda contínua da moeda
americana prejudique a balança
comercial. "Não vejo razão para
esse choro preventivo dos exportadores", diz.
Para ele, é hora de o BC recompor suas reservas aproveitando o
momento positivo e lançando títulos do Tesouro no exterior.
Também é aconselhável, avalia,
reduzir a dívida interna corrigida
pelo câmbio.
Lopes concorda com a proposta
de reduzir a dívida cambial, "que
tanta instabilidade trouxe em outros momentos". Segundo ele, a
medida pode barrar a trajetória
de queda do dólar sem o artificialismo de uma intervenção direta
no mercado de câmbio.
Texto Anterior: Só Uruguai tem empréstimo mais caro que o Brasil Próximo Texto: Frases Índice
|