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GOVERNO LULA CEM DIAS
Só Uruguai tem
empréstimo mais
caro que o Brasil
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil é um dos piores países
do mundo para tomar um empréstimo. Numa lista formada
por 42 países, os juros praticados
por bancos brasileiros ocupam a
segunda posição entre os mais
elevados, segundo levantamento
feito a partir de dados do IFS (International Financial Statistics).
De acordo com o IFS, quem tomou um empréstimo no Brasil ao
longo de 2002 pagou juros reais
-ou seja, já descontada a inflação do período- de 50,18% ao
ano. Essa taxa só foi superada pela
praticada no Uruguai, onde um
financiamento custava, em média, 98,35% ao ano.
Os juros bancários em vigor no
Brasil superam, de longe, as taxas
observadas em outros países
emergentes. Na Argentina, os juros reais ficaram em 22,89% ao
ano. No Paraguai, 25,47% ao ano.
No Chile, 5,14%. As taxas mais
baixas são encontradas nos países
desenvolvidos, como Irlanda, Canadá e Holanda.
A lista de 42 países foi elaborada
pela Folha com base nos dados do
IFS, órgão ligado ao FMI que
acompanha indicadores econômicos em mais de cem países. Foram selecionados todos os países
cujos dados relativos ao ano de
2002 já estavam disponíveis.
No Uruguai, a elevada taxa de
juros reflete a crise econômica enfrentada pelo país. Bastante ligada
à Argentina, a economia uruguaia
vem enfrentando dificuldades
com a derrocada do país vizinho.
A crise se alastrou pelos bancos e
muitas instituições financeiras
ameaçaram fechar as portas.
Já no Brasil, que não vive crise
tão aguda quanto a uruguaia, são
várias as justificativas para os juros altos. Segundo Roberto Troster, economista-chefe da Febraban, o principal motivo é a elevada dívida pública.
"Quando o governo toma muito dinheiro no mercado, isso acaba distorcendo as taxas praticadas
nos empréstimos ao setor privado", diz ele. A dívida do setor público (União, Estados, municípios
e estatais) soma R$ 904 bilhões, o
equivalente a 56,6% do PIB (Produto Interno Bruto).
O grande credor do governo é o
chamado "mercado": bancos e
fundos de investimento. Cria-se,
então, um ambiente bastante desfavorável a pessoas e empresas
que procuram os empréstimos
bancários. Como o governo paga
aos bancos juros altos, com um
risco mínimo de inadimplência,
as instituições preferem direcionar seus recursos ao setor público. Quando emprestam ao setor
privado, emprestam a taxas muito elevadas.
Parte dos juros altos cobrados
pelos bancos reflete a taxa Selic.
Hoje em 26,5% ao ano, ela serve
de referência nos empréstimos
que os próprios bancos contraem
quando precisam de dinheiro.
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