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GOVERNO LULA CEM DIAS
Para ganhar a confiança dos mercados, governo freia a economia e reduz renda dos trabalhadores; exportadores e bancos se beneficiam
Aperto recorde marca início da era Lula
DA REDAÇÃO
Para conquistar a confiança dos
investidores nos cem primeiros
dias de seu mandato, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou a dose do remédio amargo de seu antecessor.
A taxa básica de juros da economia (a Selic) subiu de 25% para
26,5% ao ano, e o superávit primário -economia que o governo
faz para pagar os juros de sua dívida- aumentou de 3,75% do PIB
(Produto Interno Bruto) para
4,25%. Até fevereiro, o esforço fiscal do setor público superava os
registrados, para o mesmo período, nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
Essas medidas ajudaram o novo
governo a reverter o descrédito do
investidor estrangeiro. O risco-país, termômetro da confiança
dos papéis brasileiros no exterior,
caiu de 1.446 para 940 neste ano.
O dólar acumula queda de 9,08%
desde a posse de Lula.
No entanto, trabalhadores, consumidores, comércio e setores industriais que dependem do mercado interno saíram perdendo
com o crédito ainda mais caro e a
falta de investimentos. A inflação
também ajudou a corroer a renda.
Segundo o IBGE, o rendimento
médio do trabalhadores assalariado em seis regiões metropolitanas
do país caiu de R$ 894,83, em dezembro, para R$ 849,50 em fevereiro. A expectativa é que tenha
ocorrido uma nova retração no
mês passado.
A queda da renda acabou se refletindo na inadimplência ao comércio, que cresceu 13% no primeiro trimestre. Já o número de
falências decretadas subiu 3,05%.
Beneficiadas pela prioridade do
governo de corrigir suas contas
externas, as exportações brasileiras cresceram 26,5% no primeiro
trimestre e atingiram US$ 15,04
bilhões. O superávit de US$ 3,76
bilhões na balança comercial no
período é quase o mesmo alcançado em todo o primeiro semestre do ano passado.
"Ficou claro que, nesses primeiros cem dias, Lula fez o melhor
que poderia fazer em tão curto
prazo, que foi reconquistar a credibilidade do Brasil", disse o economista Antonio Barros de Castro, ex-presidente do BNDES.
"Foi uma grata surpresa. Mas o
governo tem revelado uma certa
ausência de formulação, de alternativas. Ele ainda não disse a que
veio em muitos campos."
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), principal fonte de financiamento de longo prazo, está paralisado. A aprovação de novos
projetos caiu 66%.
Para o secretário de Assuntos
Internacionais do Ministério da
Fazenda, Otaviano Canuto, a política econômica de Lula está dando certo. "A palavra-chave é "delivery" [entrega", como bem empregou um analista de Wall
Street. A gente está prometendo e
a gente está entregando."
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